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segunda-feira, 20 de setembro de 2010
20 de setembro de 2010 | N° 16464
L. F. VERISSIMO
A volta de Gekko
Gordon Gekko era o vilão do filme Wall Street, do Oliver Stone. Ou era para ser o vilão. Acabou sendo o personagem mais admirado do filme. Como Michael Douglas o retratou, Gekko era um bandido atraente, com bom gosto, que sabia apreciar tanto o que seu dinheiro comprava quanto um belo pôr de sol na praia.
E incorporava com elegância impecável a ganância sem remorsos da era. Lembro de outro filme sobre o mercado de capitais em que um grupo de corretores se reúne para ver o Wall Street e vibrar com Gekko e suas artimanhas. Ele era tudo o que eles queriam ser, da gravata à falta de escrúpulos. Para seus torcedores, a lição final que Gekko recebia no filme do Stone não passava de uma concessão à moral dos trouxas.
Gordon Gekko, claro, não é o primeiro bandido de sucesso no cinema. Não só os papéis de vilão costumam dar as melhores interpretações – a calhordice é sempre mais divertida do que a virtude, e Gekko valeu um Oscar para o Michael Douglas –, como há uma longa tradição cinematográfica de glamorizar criminosos, cujo exemplo mais recente é a série de filmes sobre os “Ocean’s Eleven”, George Clooney e seu simpático bando de ladrões.
Um personagem reincidente na ficção da americana Patrícia Highsmith que também já apareceu no cinema é Tom Ripley, trambiqueiro e assassino, outro anti-herói com público certo.
E não vamos esquecer nosso herói sem nenhum caráter, Macunaíma, o francês Arsène Lupin e o conhecido fora da lei e assaltante de estrada Robin Hood. (Se não é difícil entender a atração desses vilões pitorescos e fotogênicos, vá entender a popularidade de Hannibal Lecter, o psicopata comedor de caras que também já voltou mais de uma vez, atendendo a pedidos.)
Gordon Gekko está de volta no novo filme de Stone, continuação do outro. Ainda não vi o filme, estou chutando. Gekko sai da cadeia, onde, presumivelmente, aprendeu a lição de que ganância é bom, mas sem exageros – o que no fundo é o que o governo americano vem tentando dizer a Wall Street desde a crise –, ou então continua o mesmo Gordon Gekko, mas um que teve tempo na prisão para pensar em novas artimanhas, e não vê a hora de se reencontrar com suas gravatas.
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