sábado, 25 de setembro de 2010



26 de setembro de 2010 | N° 16470
DAVID COIMBRA


O maravilhoso mundo do circo

Decidi levar meu filhinho ao circo. Cheguei uns minutos antes, estacionei o carro e, a caminho da bilheteria, vi que dois palhaços zanzavam por ali, do lado de fora da lona. Os palhaços fumavam e conversavam ao celular, cada qual com seu aparelho. Eles falavam alto e sopravam grandes baforadas para o ar e vez em quando riam com estridência:

– Rô, rô, rô! Rá, rá, rá!

Umas risadas maliciosas, não eram risadas de circo, não eram risadas que criancinhas entendessem.

Resolvi não deixar o Bernardo ver os palhaços naquele momento mundano. Peguei-o no colo, fiz com que olhasse para o outro lado.

– Olha um cachorro ali, Pocolino! – Onde? Onde?

Um velho truque. Qualquer vira-lata é atração para criança.

Entramos no circo. Malabaristas, trapezistas e tudo mais.

– Cadê os bichos, papai? – O circo agora não tem mais bichos.

– Nem leão? – Nem leão.

– Nem elefante?

– Nem elefante. Mas tem o Globo da Morte, olha as motos ali.

Apesar da destreza dos motoqueiros, o Bernardo não chegou a se empolgar. Queria ver os bichos, os bichos. No intervalo, levei-o para comprar um bastão de luz colorida que outros meninos empunhavam. Um troço parecido com aquela espada de energia do Star War, manja? Bom. Estava com ele no colo, escolhendo o tal bastão de luz, quando alguém gritou:

– David Coimbra! Olhei para o lado.

Era um palhaço. Talvez fosse um dos que vi fumando na rua, talvez não. Não sei, só sei que o palhaço veio na minha direção quase gritando:

– Tu é o David Coimbra, não é?

Eu era.

Tratava-se de um palhaço carioca, flamenguista, como a maioria dos cariocas, nada satisfeito com as notícias que vinham saindo em Zero Hora sobre o Flamengo.

– Vocês não dão importância para os times do Rio! – reclamava, irritado.

Olhei para o Bernardo. Ele encarava o palhaço com aqueles olhos pretos dele bem arregalados. O palhaço seguiu se queixando da linha editorial do Esporte da Zero Hora. Fiquei um pouco preocupado. Um palhaço esbravejando daquele jeito poderia comprometer as ilusões infantis do meu filhinho acerca do mundo do circo, a alegria, lalariralala, aquela coisa toda. Tentei mudar de assunto.

– Qual é o teu nome? – perguntei.

Achei que responderia com uma mesura:

– Pingolin! Palhaço Pingolin, a seu dispor!

Ou:

– Paçoquinha, o palhaço do Brasil!

Ou:

– Bolotinho!

Mas ele disse:

– Mateus.

O Bernardo abriu a boca, perplexo.

Mateus? Mateus é lá nome de palhaço???

Desconversei, disse que tinha de levar meu filho à segunda parte do espetáculo e voltei para frente do picadeiro.

– Agora vêm os bichos, papai?

– Não. Não tem bicho.

– Nem o tigre?

– Ali tem umas moças que dançam, ó.

Embora não houvesse bichos, o Bernardo até que gostou do circo. Na saída, eu de novo com ele no colo, já estávamos perto do carro quando ouvi o grito:

– Ô, David! Ô, David!

O palhaço Mateus.

Olhei. O Bernardo olhou também.

– Fala bem do Flamengo, hein!

– Podeixar – gritei em resposta.

– Vê se dá um pouco mais de atenção ao Mengo, pô! É o Mengão! O campeão do Brasil!

Afivelei o Bernardo na cadeirinha enquanto o palhaço berrava de lá:

– Mengão! Mengo! Mengo! Mengão!

Saí com o carro, e ele ainda gritando.

– Fala bem do Mengo! Fala bem do Mengo!

Vou dizer: estou torcendo para que o PUTZGRILL@$!”(ZREOFFEM***()*HRTEPPPYT¨&* do Flamengo caia para a segunda divisão.

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