quinta-feira, 16 de setembro de 2010



16 de setembro de 2010 | N° 16460
PAULO SANT’ANA


Leão ruge nas ruas

A crise na Casa Militar em nada atinge a Brigada Militar. Basta que se pergunte à tropa brigadiana, o grosso do efetivo da força, o que ela acha da Casa Militar. E se ouvirá que se trata de um recinto de regalias, de um paraíso de mordomia e, agora, de um centro gravitacional da bisbilhotice.

Para a tropa, quem é lotado na Casa Militar passa a ser, em suma, um civil. A prova é que o sargento bisbilhoteiro não usava farda havia muitos anos.

Mas o diabo anda mesmo à solta no Rio Grande. Na cidade de Novo Xingu, norte do Estado, deu para aparecer de uns dias para cá um leão. Em plena zona urbana.

Mas não se trata do leão-baio, nome que se deu ao puma aqui no RS. O leão que vem aparecendo aos moradores de Novo Xingu é um legítimo leão africano, com imensa juba, tanto que se cogita que ele pode ter escapado de um circo.

Embora agite mais ainda a imaginação aterrorizada da cidade o fato de que na região há muitos anos não se apresenta nenhum circo.

Para o alarma ainda mais geral da população, circulam rumores de que nos campos vêm sendo encontradas carcaças de bois e vacas.

Só que, embora possa estar se alimentando de gado no campo, o leão ronda a zona urbana.

Que século! Helicópteros na selva afegã e leão solto na zona urbana!

Recebi mensagem do chefe da Casa Militar que se demitiu do seu cargo, cuja atitude foi ontem analisada por esta coluna:

“Prezado jornalista Paulo Sant’Ana: tenho me mantido silente diante da situação abordada na coluna de ontem, entretanto a repercussão têm sido de tal intensidade e imprecisão que cabe um esclarecimento público a respeito, senão em homenagem à verdade.

Há cerca de três meses, uma pessoa se apresenta ao Ministério Público de Canoas se dizendo extorquida por um militar. Durante a investigação que sobreveio, chamou a atenção do MP a quantidade exagerada de acessos, realizados pelo investigado, ao sistema de Consultas Integradas.

O militar era autorizado a exercer sua função visando ao interesse público e, caso reste comprovado o cometimento de excessos, deverá ser responsabilizado na medida da sua culpabilidade. Como se trata de acessos eletrônicos – realizáveis a partir de qualquer local e horário –, impossível uma fiscalização diuturna e, portanto, não cabe responsabilidade senão àquele que cometeu os eventuais abusos.

A tese, esposada pela defesa, de que a ordem partiu desta chefia, se demonstra de todo inverossímil, pois – considerando o número até então revelado de 95 mil acessos – seria improvável alguém ditar nomes nessa profusão, a menos que dedicado exclusivamente a esse intento, algo impossível no exercício de um cargo de secretário de Estado como o que exercia. Tanto é assim, que sequer figuro entre os investigados pelo MP, com o qual pretendo colaborar sempre que for chamado.

Minha aposentadoria decorre de um gesto de elegância perante a decisão do governo de reformular a estrutura da Casa Militar, em nada se relacionando à investigação em curso, da qual, reputo, não me assiste nenhuma ligação. Faço tal esclarecimento em respeito a uma história de honradez e probidade que construí ao longo de três décadas de função pública. Atenciosamente, (ass.) tenente-coronel Marco Antônio Oliveira Quevedo”.

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