quarta-feira, 15 de setembro de 2010



15 de setembro de 2010 | N° 16459
PAULO SANT’ANA


O sargento bisbilhoteiro

Os advogados, jornalistas, políticos e autoridades com quem falei se mostraram desolados, todos me disseram a mesma coisa: “Estamos desmoralizados, fomos bisbilhotados por um sargento. É uma desonra. O mínimo de bisbilhotagem digna de que seríamos alvos tinha de ser de autoria de um coronel. Sermos bisbilhotados por um sargento é a suprema humilhação”.

Disse o noticiário anteontem que o sargento acessou 95 mil sigilos. Nem em 40 anos, um sargento só poderia violar o sigilo dessa multidão colossal.

Está tudo mal explicado, embora se entenda como razoáveis a prudência e a parcimônia do Ministério Público em divulgar os resultados da investigação.

Outra coisa que não ficou bem clara foi o objetivo da bisbilhotagem.

Sabe-se que quem detém a informação detém o poder. Mas que tipo de vantagem tinha o sargento em saber que o político tal tem três carros, que o advogado tal possui 10 imóveis, que o jornalista fulano janta em restaurantes todas as noites?

Qual era o objetivo dessa bisbilhotagem-monstro e monstruosa?

Eu teria sido acessado pelo sargento? As pessoas que trabalham aqui do meu lado foram acessadas pelo sargento? Os meus vizinhos de condomínio foram acessados pelo sargento? O cunhado do meu cabeleireiro foi acessado pelo sargento?

Do jeito que está, nesta marcha que o diabo gosta, se o sargento acessou 95 mil sigilos, difícil vai ser descobrir quem não foi acessado pelo sargento.

Isso é um ultraje.

É uma confusão danada. Ontem foi divulgada a notícia de que o sargento, em dado momento, descobriu que o Ministério Público o estava investigando.

Então o sargento, em rápida contrapartida, começou a acessar aqueles que o estavam investigando.

Mas dá para acreditar nessa maçaroca?

O chefe da Casa Militar do governo Yeda demitiu-se tão logo ficou sabendo que o homem mais importante e ilustre de sua Casa Militar era um sargento.

Fez bem o coronel demissionário: fez bem se sabia que o sargento bisbilhotava indiscriminadamente e fez melhor ainda se não sabia que o sargento bisbilhotava. Em ambas as hipóteses, se o coronel sabia, isso era grave, e se não sabia, era mais grave ainda, pois estava boiando.

Tão logo explodiu o escândalo do sargento, a governadora baixou medidas que reduziram em 50% o efetivo da Casa Militar.

Não sei por que me veio a intuição de que 50% do efetivo da Casa Militar bisbilhotava, é o que indica a drasticidade dos cortes de efetivo.

Eu não quero acreditar no noticiário, que transformou a Casa Militar do Piratini num extenso arroio ocupado por tábuas de lavadeiras alcoviteiras que se ocupavam de mexericos, futricas, diz que me disse, fofocas etc.

As investigações do MP e as prováveis investigações administrativas terão o dom de esclarecer ao Rio Grande o que de fato fazia a Casa Militar, se ajudava o governo ou se somente se intrometia na vida alheia.

De qualquer forma, elogie-se o Ministério Público. É uma vergonha que indefesos cidadãos fiquem no mínimo à mercê de bisbilhotices patifes.

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