sexta-feira, 24 de setembro de 2010


Jaime Cimenti

Inédito de Jack Kerouac no Brasil

Anjos da desolação, romance de Jack Kerouac inédito no Brasil, acaba de ser lançado com tradução de Guilherme da Silva Braga, texto de introdução do escritor norte-americano Seymour Krim e depoimento da escritora Joyce Johnson, que conta como conheceu Kerouac e como se tornou personagem da narrativa, com o nome Alyce Newman.

No alto do Desolation Peak, Kerouac disse que sua vida "foi um vasto épico com milhões de personagens". Seu romance pode também ser classificado assim. Anjos da desolação é considerado um dos livros mais autênticos do autor de On the Road, Visões de Cody, Tristessa, Os vagabundos iluminados, Big Sur e outros títulos que marcaram para sempre a lendária geração beat.

O romance foi transcrito diretamente dos diários de Jack, que no verão de 1956 trabalhou por 63 dias como vigia de incêndios no Desolation Peak, monte situado a dois mil metros do nível no mar, no estado de Washington.

Pela transcrição direta dos textos e diante do tom de carta íntima tornada pública, a obra ganhou caráter documental. O tom jazzístico da prosa e o ritmo da fala mostram o autor, os personagens e o clima por inteiro. Kerouac buscava um sentido para a vida, uma resposta para os questionamentos que o oprimiam. Sem o verniz do álcool e das drogas, rodeado pela paz e pelo isolamento da natureza, deu de cara com ele mesmo, com a finitude e com a solidão.

Essa foi uma de suas últimas experiências "on the road", antes de lançar o livro homônimo, que o catapultou para a fama em 1957. A obra é dividida em duas grandes partes, Livro um: Anjos da desolação e A desolação no mundo e Livro dois: Passando pelo México, Passando por Nova Iorque, Passando pelo Tanger, pela França e por Londres e Passando mais uma vez pela América.

A primeira parte é mais intimista, já a segunda dá lugar às bebedeiras, ao envolvimento com mulheres e às andanças características das outras narrativas. O amigo e contemporâneo de geração beat de Jack, Allen Guinsberg, escreveu que cada livro de Kerouac é único, uma dissonância telepática. Ele disse que Kerouac sintetiza Proust, Céline, Hemingway, Genet, Thelonius Monk, Charlie Parker e o insight do próprio Kerouac.

A revista Time referiu-se ao romance como "uma das mais verdadeiras, engraçadas e melancólicas viagens da literatura norte-americana". Mais não é preciso dizer. Leia o livro, ouça, se ligue. Suba a montanha da solidão, medite, depois desça para o mundo cheio de sons, vozes, pessoas e caia na farra. Bem como disse W.E. Woodward, citado por Jack: não há nada na vida afora o viver. L&PM Editores, 360 páginas, www.lpm.com.br.

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