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terça-feira, 14 de setembro de 2010
14 de setembro de 2010 | N° 16458
PAULO SANT’ANA
Oferta ampla do SUS
Fui convocado para ser testemunha, na 1ª Vara do Júri, do processo em que são réus o médico Bayard Fischer e outros, acusados de autoria do homicídio do médico Marco Antônio Becker.
O Ministério Público, sempre atento, talvez tenha me arrolado como testemunha por ter publicado colunas a respeito do fato, quando entrevistei o hoje principal réu. Ainda não o era quando o entrevistei.
Lá estava eu no dia marcado para meu depoimento. O delegado que presidiu o inquérito, Rodrigo Bozzetto, depôs antes, tendo durado cinco longas horas a sua oitiva.
Agora eu: a sala onde se colhiam os depoimentos estava lotada com a presença de todos os diversos réus, não algemados ao que me parecia, os advogados, o promotor e seu assistente, os serventuários da Justiça e o público em geral.
Foi em meados do mês passado o meu depoimento.
A juíza Eliane começou com voz pausada, antes das três horas em que depus: “O senhor nos desculpe, Dr. Paulo Sant’Ana, mas as nossas instalações estão acanhadas. Esta sessão tinha de ser realizada na maior sala, a do plenário, mas ela sofre com mudanças. Fomos obrigados a colher os depoimentos aqui e o que se vê é muita gente e pouco espaço. Desculpe-nos este incômodo”.
Eu respondi: “Não tem do que se desculpar, meritíssima juíza, o fato é que, se a sala mais ampla estivesse disponível, nem assim poderia abrigar a multidão que acorre para ouvir meu depoimento. Da próxima vez que eu depuser, senhora juíza, melhor seria requisitar como local o Gigantinho”.
Eu ainda não entendi esse mistério espetacular que cerca a prestação do SUS em nosso meio.
Acontece que a Santa Casa de Misericórdia da cidade de Rio Grande anuncia todos os dias na Rádio Gaúcha que aceita pacientes do SUS de qualquer parte do Estado que queiram se submeter a qualquer tipo de cirurgia de quase todas as especialidades.
É estranho, muito estranho, porque os hospitais reclamam veementemente dos preços que o SUS lhes paga por seus serviços, argumentando que eles são insuficientes para cobrir seus gastos, o que leva muitos deles a inúmeras dificuldades e até ao fechamento.
Mas, no meio dessa alaúza toda, vem a Santa Casa de Rio Grande pagar anúncios na Rádio Gaúcha para chamar pacientes de cirurgia de todo o Estado para serem operados lá gratuitamente.
Algo está mal explicado e é urgente que se o explique. A impressão nítida que este fato transmite é de que, se for bem organizado, qualquer hospital pode ter lucro com os preços que o SUS lhe paga por seus serviços.
E mais: que é grande negócio ser credenciado pelo SUS.
Como é que depois disso os hospitais vão ter moral para solicitar ao SUS reajuste para cima no preço dos seus serviços?
E há uma outra pista a indicar a mesma direção: sempre se ouve falar que a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre se oferece às autoridades da Saúde para aumentar o seu número de leitos e obtém repetidas recusas.
Como é que é isto? Alguém sabe me dizer como se resolve este intrigante mistério que ronda os dramáticos serviços de saúde no RS?
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