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terça-feira, 28 de setembro de 2010
28 de setembro de 2010 | N° 16472
PAULO SANT’ANA
O tédio da fortuna
Mas, também, chega de fazer excelentes colunas. Tanto que o presidente da RBS me cumprimentou pela entrevista com o Pitanguy, o Jayme Sirotsky me telefonou para me cumprimentar pela mesma entrevista e o vice-presidente da RBS Geraldo Corrêa me telefonou para dizer que minha coluna de domingo estava melhor que a entrevista com o Pitanguy.
Já o meu barbeiro disse que gostou da entrevista com o Pitanguy porque pensou, erradamente, que o tema com o grande cirurgião já tivesse sido esgotado.
O Geraldo se enganou: não poderia haver nada melhor que aquela entrevista.
Chega de fazer grandes colunas. Um dia há de sair uma coluna medíocre, ainda que digna.
Só tem uma coisa mais difícil que escrever uma coluna por dia: é escrever ótimas colunas todos os dias.
E a coluna que o Geraldo Corrêa elogiou foi aquela que escrevi sobre o tédio, um tema em que, assim como o ciúme, eu sou mestre.
O tédio está aquém da tristeza, no sentido de que ele é menos dolorido. Só que a diferença entre o tédio e a tristeza é que o tédio é quase permanente e a tristeza vai amanhã com o vento.
Além disso, tédio é um sentimento que se sabe voltará amanhã, no domingo, qualquer dias destes. Estará sempre grudado à nossa pele até o fim dos nossos dias.
O tédio rói silencioso as nossas entranhas, ele se manifesta em aliança com o desânimo: quando se tem tédio, a gente se domina da desesperança em dias melhores.
O tédio é um aperto no peito e na mente, um cansaço no coração, dá vontade de a gente ir para não sei onde, ou então de desaparecer.
Eu chamaria o tédio de uma doença mental que, no entanto, quem a tem não sente vontade de suicidar-se.
Depressão leva ao suicídio, tédio não. Isso é que é curioso no tédio, ele se instala na vida e não quer fugir dela.
E posso dizer alto e bom som: tenho tédio; logo, existo.
O tédio paralisa, não se sabe o que pensar nem fazer. Não se sai do lugar nem fisicamente, nem com o pensamento.
E, se por acaso a gente decide ir ao cinema, o filme não se incorpora à gente, o tédio continua dominante.
Outra característica do tédio é que a gente culpa o domingo por ser tedioso, quando tedioso é a gente.
O domingo é tedioso seja por causa da chuva ou da rotina, mas bem que dava para não ter tédio se a gente estivesse amando naquele mesmo domingo.
Ou seja, o tédio vem de dentro da gente, irrompe no nosso âmago e se espalha por todos os ambientes que se frequenta.
O tédio é um imenso aborrecimento. E, o pior: ele não tem causa; se tivesse, saber-se-ia atacá-la.
Mas, não, a gente tem tédio como tem resfriado, não sabe de onde veio.
Por sinal, bem que poderiam inventar uma vacina contra o tédio. Faria mais sucesso que uma vacina contra a gripe, tal a demanda que se instalaria nos postos de saúde.
E, por fim, o tédio é uma doença tão terrível, que ataca até os ricos. Por sinal, ataca mais os ricos que os pobres, porque, se é tedioso um pobre, ele atribui o tédio à sua pobreza.
E o rico vai atribuir a quê?
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