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terça-feira, 7 de setembro de 2010
07 de setembro de 2010 | N° 16451
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
O semeador de livros
Acompanho em Zero Hora o depoimento de Rodrigo Lopes e Jefferson Botega sobre um vigia da prefeitura de Dom Pedrito que semeia leitores na cidade. Faz isso por amor e por vocação.
Em 2003, quando trabalhava em reciclagem, André Luis de Souza Cordeiro se deu conta das dezenas de livros que encontrava no lixo. Principiou a reuni-los e quando viu tinha formado uma biblioteca de milhares de volumes.
Abriu-a então à comunidade, especialmente às crianças pobres como ele, e não desistiu nem mesmo quando, no ano passado, a grande enchente do Rio Santa Maria levou 2 mil livros do casebre precário onde mora com a mulher e os quatro filhos. Até hoje não há cliente – geralmente meninos e meninas – que, batendo palmas à sua porta, deixe de obter uma obra que deseja, mesmo quando a frágil morada continue exposta aos perigos das cheias.
A reportagem me devolveu a uma das minhas mais belas experiências de vida. Foi em Mainz, na Alemanha, onde Gutenberg inventou a imprensa, que participei, em um lindíssimo jardim, de uma cerimônia em que se celebrava o prazer da leitura. Naquele outono europeu de 2005, aprendi, com amigos de 18 países, que, num mundo invadido pela eletrônica, pela informática e pela internet, nada substitui a leitura.
Mais ainda: no palacete que era a sede alemã da German Stiftung Lesen, descobri que havia uma cruzada europeia, sustentada por voluntários de muitas nações, segundo a qual nenhuma sociedade é civilizada e integrada se não lê, que o apreço aos livros deve começar tão pronto quanto Deus permita, que é dever de cada pai e de cada mãe ler para os seus filhos. Desde que idade? Desde muito cedo, quando eles ainda tenham uns poucos meses.
Isso parece uma utopia? Não na Europa, onde a mobilização pela leitura – particularmente a leitura dos pais para seus filhos – tem sucursais da Bélgica à Inglaterra, da Itália à Holanda, da Suíça à França. Na Alemanha é uma instituição formal, que tem como patrono o próprio presidente da República.
Dito o que, voltamos a Dom Pedrito. André Luis de Souza Cordeiro é um intuitivo por natureza. Reciclador de lixo, ele percebeu que, entre as sobras da sociedade de consumo, havia bens de um valor incalculável.
Não os quis para si mesmo. Converteu sua casa humilde em uma biblioteca, livre e franca para quem quisesse se servir dela. É que não lhe faltava a noção de que o melhor legado que se pode transmitir é o da informação e da cultura.
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