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sexta-feira, 3 de setembro de 2010
03 de setembro de 2010 | N° 16447
PAULO SANT’ANA
Pesquisas perversas
Eu não tenho dúvida de que as pesquisas influem em todos os resultados de eleições.
Sei por mim: em todas as eleições passadas, votei sempre movido pelas pesquisas. Não tenho vergonha de declarar que já votei contra a minha preferência, contra a minha consciência, influenciado pelas pesquisas.
Em suma, o que quero dizer é que não deveriam existir as pesquisas, elas viciam as eleições.
Pela pesquisa, fica-se conhecendo o resultado de uma eleição antes de as urnas serem apuradas.
Ou seja, a pesquisa dá vitória e determina derrota para determinados candidatos e ainda por cima anuncia antes da eleição que ele será eleito!
Pode existir maior absurdo, mais estúpido vício eleitoral do que a pesquisa?
Sinceramente, pensei que o grau de aperfeiçoamento da democracia brasileira já tivesse sido atingido pela sabedoria em proibir as pesquisas.
Vejo aí os promotores e juízes eleitorais empenhados em coibir os crimes eleitorais e com as mãos amarradas para coibir o maior de todos os crimes eleitorais: as pesquisas.
Antes das pesquisas, todos os eleitores ansiavam pelo dia da apuração dos votos para saber quem tinha ganho a eleição.
Agora, não. Todos querem saber como foi a pesquisa. Ou seja, a pesquisa substituiu a eleição. A pesquisa substitui o voto, além de modificá-lo.
Pode existir maior crime?
Aí, vem um campeão da idiotice e me contesta: “Mas as pesquisas são exatas”.
Ora, burrice extrema, o tiro que matou Abraham Lincoln não foi também exato? O prego que pregou Jesus na cruz não foi também exato?
Nem por isso deixaram de se constituir em dois dos maiores crimes da humanidade.
Se a pesquisa substituiu a eleição, é gravíssimo que da eleição participem mesários, promotores e juizes eleitorais, todos eles juramentados, enquanto os coletadores de opiniões nas pesquisas e os tabuladores de seus resultados não têm qualquer fé pública.
Qualquer um pode abrir um instituto de pesquisa e sair a pesquisar tendências eleitorais, bastando para isso um reles registro de sua pesquisa na Justiça Eleitoral, sem que lhe sejam requeridas competência e legitimidade.
Ficou tão distorcido pelas pesquisas o resultado das eleições, que a data do pleito passou a ser menos importante que a datas de divulgação das pesquisas.
Antes se dizia: “Dia 3 de outubro vai ter eleição”.
Agora se diz loucamente: “Domingo tem pesquisa no jornal”.
É uma catástrofe.
E ninguém se levanta contra esse desastre para o sistema de representação e esse atentado à democracia.
Se eu, que tenho curso universitário e sou um sujeito razoavelmente informado, confesso que mudo meu voto de acordo com o resultado das pesquisas, imaginem o que acontece com 80% do eleitorado brasileiro, que se constitui de analfabetos funcionais!
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