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segunda-feira, 13 de setembro de 2010
13 de setembro de 2010
| N° 16457 - PAULO SANT’ANA
O olfato das mulheres
Chuvas insistentes ontem e anteontem sobre a cidade colocaram-me na posição cismadora de quem só vê vultos em todas as sombras e não vê mais que sombras em todos os vultos.
Um amigo meu me disse que sua mulher, sempre que chega em casa à noite, diz-lhe que sabe que jantou comigo ou esteve comigo em algum lugar.
Meu amigo pergunta: “Como sabes que estive com o Sant’Ana?” E a mulher responde: “Porque senti o cheiro de fumaça nas tuas roupas”.
É impressionante como as mulheres sentem o cheiro de sua fortuna ou de sua desgraça nos corpos de seus homens.
Havia uma outra mulher de outro amigo meu que controlava toda a vida sexual de seu marido, com eventualidade de aventuras extraconjugais, cheirando-lhe as cuecas quando ele chegava em casa.
Não me perguntem como ela detectava traição no cheiro das cuecas de seu marido, o certo é que ela nunca errou sequer uma vez.
É fato indiscutível que as mulheres possuem propriedades olfativas extraordinárias, comandam o seu controle sensorial sobre os maridos através de suas narinas infalíveis.
Rigorosamente, uma mulher sabe exatamente se seu marido lhe é fiel ou se ele a trai mediante o que ela cheira nele, à proximidade ou à distância.
A mulher sabe se o marido a trai não por ter premonições mediúnicas, mas por possuir apuros olfativos inimagináveis.
Por sinal, a expressão “não fede nem cheira” vem daí, é o marido que nem tem atitudes infiéis, nem tem qualquer cheiro de infidelidade no corpo ou nas roupas.
Há maridos que percebem esse dom demoníaco das mulheres e engendram antídotos, como o de usarem perfumes de essências fortes que superam qualquer aroma adulterino que possa ter restado de alguma relação espúria.
Se o marido trai com alguma amante que usa perfume também forte e impregnante, está frito.
Há certos maridos que, surpreendidos com perfumes femininos em seus corpos, alegam que passaram num magazine e uma demonstradora passou-lhes para os corpos alguma amostra de essência para mulheres, por engano.
Outros há que, tendo-lhes sido passado por suas amantes algum cheiro de perfume ou colônia feminina, antes de voltarem para casa besuntam-se de óleo de cebola ou de queijo provolone, com o fim de anular o aroma denunciador.
Ao sentirem cheiro de cebola nos corpos de seu maridos, há esposas que se atiram ao sarcasmo: “Ou vieste de uma churrascaria ou estavas a me trair com alguma pilantra perfumada”.
No entanto, há uma tese ousada que é defendida por alguns maridos: a de que a mulher sempre gosta de desconfiar que seu marido a trai.
Veja bem, eles defendem que a mulher não quer saber que é traída, mas adora desconfiar que seu marido a trai.
Por isso alguns maridos se dedicam à ciência de fabricar vestígios de sua traição para que suas mulheres os notem e sintam-se enciumadas, o que as faz mais ainda excitadas e propícias ao amor conjugal.
É tudo um jogo de dissimulações, de fingimentos, de pequenas farsas, de máscaras, que temperam o casamento e não permitem que o insosso do fastio e da fadiga da convivência abalem ou destruam a relação.
Mas em todo o caso, repito aos maridos desavisados: a arma mais poderosa das mulheres é o olfato.
O olfato, por sinal, envia ao cérebro mensagens da mais alta e profunda eficácia.
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