sábado, 25 de setembro de 2010



26 de setembro de 2010 | N° 16470
MOACYR SCLIAR


O Brasil decola

Existe algo no ar, além dos aviões de carreira, dizia o grande humorista (gaúcho, aliás) Aparicio Torelli, Barão de Itararé.

Foi uma previsão. Existe, sim, algo de novo no ar, e a novidade está dentro dos aviões de carreira; é representada pela nova classe média brasileira, a classe C, que, pela primeira vez na história do país, está conseguindo viajar de avião. São 90 milhões de brasileiros (Noventa milhões em ação...), com renda familiar entre R$ 1,1 mil e R$ 4,5 mil, que representam 60% das vendas totais de passagens: o clássico passageiro de bermuda e Havaianas.

E só 14% viajam a trabalho; 80% das viagens são a passeio ou para visitar a família. Consumidores da classe C representam 60% das vendas totais. Cerca de 11 milhões de brasileiros farão sua primeira viagem de avião nos próximos 12 meses. Desses, 8,7 milhões de pessoas pertencem às classes C e D; nove entre 10 passagens econômicas são de clientes que migraram do ônibus para o avião. Do ônibus, e também do caminhão pau-de-arara, e do jegue, e das longas marchas a pé. O Brasil mudou.

Parte dos novos passageiros ainda se sente constrangida com a novidade. Uma pesquisa mostrou que 62% dos entrevistados que não tinham viajado de avião disseram que não ficariam à vontade em um aeroporto. O que não é de estranhar. Durante muito tempo, viajar de avião era coisa para gente fina.

Os cavalheiros iam de terno e gravata; as damas usavam vestidos elegantes. Uma viagem de avião era uma celebração; prova disso eram as lautas refeições, servidas em bandejas com belos talheres e guardanapos de linho. Aliás, para quem estreava nas viagens, essas refeições eram motivo de aflição: aquilo era de graça, ou custaria um preço exorbitante?

Na dúvida, muita gente recusava as bandejas. Um amigo meu era um pouco mais atrevido: servia-se de uma torrada ou de uma bolachinha, para óbvio espanto da aeromoça, que não conseguia entender tal frugalidade.

Quando o pessoal finalmente descobriu que o serviço estava incluído no preço da passagem (caríssima), tratava de aproveitar: os talheres eram subrepticiamente enfiados em bolsas e iam direto para casa (nos voos internacionais, os cobertores seguiam o mesmo caminho).

Outras coisas também pareciam estranhas: sei de um homem que, quando teve de embarcar no ônibus para ir até o avião (coisa que ele nunca tinha feito), reclamou, bradando que queria chegar a seu destino por via aérea, não rodoviária.

Tudo isso está ficando coisa do passado: o Brasil decola. Alguém dirá que há prioridades mais urgentes, que esgoto nas casas é mais necessário do que viagens aéreas. Certamente. As prioridades das pessoas, expressem-se elas em televisores de tela plana, ou celulares, ou salgadinhos, têm conotações emocionais. Mas a racionalidade predomina e todo o mundo acaba descobrindo o que é importante. O Brasil decolou e certamente vai chegar a seu destino.

E olhem só a coincidência: a Haydée Porto manda um nome que condiciona destino, o do técnico de vôlei Bernardinho Corta (que deve ser um mestre em cortadas), enquanto que, de Lisboa (ZH chega longe), o Pastor Roni Querino envia o nome de outro técnico, o do Sporting de Braga: Domingos Paciência. Quando ele perde nos fins de semana a esposa o consola: aos domingos, paciência.

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