quarta-feira, 8 de setembro de 2010


FERNANDO RODRIGUES

A terceira força

BRASÍLIA - Enquanto nos EUA a lógica é quase sempre a divisão ao meio do eleitorado em eleições presidenciais, os cidadãos no Brasil têm adotado um caminho diferente. Há aqui um conjunto de forças somadas, a partir do terceiro colocado, cujo percentual varia de 10% até 30% dos votos.

Nos EUA, exceto quando surge algum excêntrico, como o empresário Ross Perot, a eleição presidencial é extremamente polarizada. A onda a favor de Barack Obama em 2008 deu a ele 52,9% dos votos, contra expressivos 45,6% para o republicano John McCain.

No Brasil, Marina Silva (PV) tem representado sozinha a terceira força nesta eleição. Ostenta 11% dos votos válidos. Esse não é um patrimônio exclusivo dela. Na realidade, a verde só desempenha hoje o papel de depositária de um descontentamento latente de parte do eleitorado brasileiro.

São os que rejeitam PT e PSDB. Votaram em Enéas, Quércia, Brizola e Amin em 1994 (18% no total). Escolheram Ciro e Enéas em 1998 (15%). Em 2002, foram de Garotinho e Ciro (30%). Em 2006, o papel coube a Heloísa Helena e a Cristovam Buarque (9,8%).

Agora, chegou a vez de Marina. Não deve vencer. Mas confirma a tese de que há espaço para uma terceira força na política nacional. Um dos fatores é a polarização fajuta à brasileira. De um lado, uma organização criptostanilista nos modos e na estrutura, como o PT. Do outro, a abulia organizacional do PSDB. Os tucanos são um "não-partido". Faturaram o Planalto duas vezes por obra do Plano Real, e não de uma militância real.

Não está claro se Marina será a líder dessa terceira força. Ciro Gomes foi um dia esse nome, mas ele preferiu aderir ao lulo-petismo para depois ser dizimado.

Independentemente de quem desejar encarnar a missão para valer, terá primeiro de construir um partido político -algo que o PV, de Marina, ainda está longe de ser.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br

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