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terça-feira, 14 de setembro de 2010
14 de setembro de 2010 | N° 16458
LUÍS AUGUSTO FISCHER
Lua Caiada
Troço bem bom o CD mais recente do Nelson Coelho de Castro. O senhor ouviu? Não tem cabimento, sinceramente: um disco como esses dando sopa e o senhor deixando de experimentar a maravilha?
O estilo de composição do Nelson, mais neste disco do que antes, faz lembrar a história de quando o Caetano Veloso conheceu a música do Paulinho da Viola, em pessoa. O baiano ouviu aqueles sambas lindos, de linhas melódicas mais sinuosas do que a média, mas sempre agradáveis e inteligentes, e, diz a lenda, teria perguntado ao Paulinho: “Mas você nunca ouviu Bossa Nova?”.
Não é que ele não conhecesse; é que a Bossa Nova não era a praia dele, nem era para ele a revelação que foi para quem achava que samba era aquela coisa abolerada que fez sucesso massivo nos anos 50. Paulinho tomava a água pura do samba na fonte, e por isso talvez não tivesse sentido necessidade da grande reforma bossanovista.
O Nelson é bem Paulinho, mesmíssima família estética. O negócio dele é samba-samba, sem o serviço militar obrigatório joãogilbertiano. Delicadeza na voz? Ele já tinha. Singeleza, corte de excessos orquestrais? Já praticava. E, como ocorre no velho samba (mas quase nunca na dita Bossa Nova), o Nelson fala da vida de gente comum, neguinho que mora no bairro, guria que vai pra festa, amores e desamores expressos em estrofes e refrões eficientes.
E os arranjos do disco, meu amigo, vou te contar. Um luxo de simplicidade, colorido, invenção sutil, acentuando o laço entre Porto Alegre e um Brasil profundo, da tradição urbana que combina elegância e picardia, inteligência e intuição, amor e contenção – ouve-se mais uma faixa e entra em cena a “paixão medida”, síntese paradoxal de Carlos Drummond de Andrade, que também é da família.
E o luxo do título, Lua Caiada, natureza melhorada pela mão humana, pela poesia? E a naturalidade do uso da língua de todo dia, na catega?
LINHA DE APOIO – Sábado, um ou outro dos leitores do Cultura deve ter percebido uma incongruência entre o teor do meu texto, “A tradição contra o presente degradado”, e a pequena manchete que o antecedia, uma frase que vinha logo abaixo do título: “Refém do passado, o tradicionalismo representa uma falsa resistência”.
Essa frase não é de minha autoria e não expressa o que eu procurei dizer no texto: enquanto a frase é categórica (“refém”, “falsa”), o conjunto do meu texto ia na direção muito mais matizada de descrever o Acampamento Farroupilha e o Tradicionalismo em contraste com um ponto de vista crítico socialista, sem jamais emitir um juízo sintético tão trivial quanto “falsa”, juízo que barateia enormemente o que eu pretendi pensar por escrito.
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