sexta-feira, 3 de setembro de 2010


DIVULGAÇÃO/JC - Jaime Cimenti

Sete de Setembro

Lá pelos anos sessenta do século passado, na parada de Sete de Setembro, quando eu tinha 7 ou 8 anos e morava na europeia Bento Gonçalves, usava uniforme azul e branco, tênis conga e cantava: a vida é feita para mim, que sou estudante.

Quase 50 anos depois mantenho, na medida do possível, um coração de estudante, tipo o da canção do Milton Nascimento, mesmo depois da morte do Tancredo e de outras tantas zebras federais. No início de abril de 1964, a professora disse que estávamos livres do comunismo, que teríamos liberdade e progresso.

Deu no que deu. Lá por 1967-1968 eu estudava em Porto Alegre, no Julinho, e participava de passeatas que saiam da Filô da Ufrgs para protestar contra o que estava pegando nos inícios dos anos de chumbo.

Em 1974 entrei no Direito da Ufrgs e fui levando a coisa junto com meus colegas. Fazíamos parte da geração amordaçada, título, aliás, de um belo livro do Fogaça, que fez muito sucesso. Me formei, fui à luta, sempre esperançoso na democracia e no desenvolvimento brasileiros.

Em 1984 eu tinha 30, estava casado, já tinha ingressado no Ministério Público e numa noite sem chuva fui até a frente da prefeitura de Porto Alegre para fazer parte do comício das diretas. Foi um dos mais lindos espetáculos de democracia e civismo que vi na vida. Tancredo se foi antes da hora, Sarney iniciou o jogo democrático e até viramos fiscais dele na luta contra a inflação. Não, não votei no Collor. Com Itamar e FHC domamos o tigre da inflação.

Lula sabiamente seguiu a cartilha econômica que estava dando certo. Não acho interessante para nós, brasileiros, um país cheio de países, de povos, de idas e vindas, dizer que fulano é todo certo e beltrano é todo errado.

Política e vida nacional não podem ser reduzidas a um Grenal ou a um Fla-Flu, até porque no caso do futebol estamos lidando com realidades internacionais, globais e intergalácticas.

Acho que nossa democracia vai amadurecendo e que precisamos ter visões de equilíbrio e realidade, precisamos lembrar e respeitar o passado, mas, claro, sem deixar a fantasia tropical de lado. Sim, sei, esta teoria na prática não é outra.

Eu sei disso, sou brasileiro e, prefiro, antes de tentar entender muito essas pessoas e essas terras, amar as pessoas e o Brasil, que é nosso chão, berço, céu e túmulo.

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