quinta-feira, 2 de setembro de 2010


CLÓVIS ROSSI

Enjaulem o Leão

SÃO PAULO - Não era preciso uma candidata à Presidência, caso de Marina Silva, dizer que a Receita Federal está fora de controle. Seus próprios funcionários já confessaram o descontrole, embora não tivessem usado a palavra.

Primeiro, foi o corregedor da própria Receita anunciar que se montara um "balcão" de venda de informações do Fisco na delegacia de Mauá. Depois, uma das funcionárias disse à Folha que sua senha havia sido "socializada".

Se ambas as informações não caracterizam descontrole, o que é descontrole então?

Pena que o governo silencie ou atue mansamente. Pena que a oposição só reclame quando algum dos seus é atingido, como se os mortais comuns pudessem estar sujeitos à bandidagem.

É bom lembrar que a Receita só se decidiu a fazer uma investigação depois que os vazamentos chegaram à mídia.

Ou seja, havia uma senha "socializada", mas nenhum chefão da Receita -nem subordinado, aliás- percebeu ou se incomodou.

Significa o seguinte: pode haver "balcões" de venda de sigilo funcionando em muitas outras delegacias da Receita. Pode haver também dezenas ou centenas de senhas "socializadas" por aí.

Esperar que a própria Receita cuide de fechar os "balcões", de acabar com a "socialização" de senhas e de restabelecer o controle é esperar pela chegada de Papai Noel. Corporações agem corporativamente, com perdão pela tremenda redundância. Não investigam a si próprias, protegem-se.

Se alguém quer tratar do assunto realmente a sério, basta lutar para implementar a proposta de outro "insider", Hélio Bernardo, presidente da entidade que representa os analistas tributários da Receita: "A Receita tem que responder à sociedade, daí ser fundamental a criação de seu órgão de controle externo". Bingo.

crossi@uol.com.br

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