sexta-feira, 24 de setembro de 2010



24 de setembro de 2010 | N° 16468
PAULO SANT’ANA


A pré-velhice

No fumódromo de ZH, uma jovem senhora, ao ser elogiada pelo reflexo que fez em seus cabelos, disse que ela só faz aquilo para esconder os seus cabelos brancos.

Disse que em mulher ficam muito feios os cabelos brancos, enquanto que acha que nos homens até ficam bem os cabelos alvos.

Contestei-a na hora: para mim, cabelos brancos são inibidores da sedução do sexo oposto, tanto em homens quanto em mulheres.

Sempre acreditei com convicção que homem de cabelos brancos fica por isso descartado completamente do mercado da sensualidade.

As mulheres olham para os homens de cabelos brancos com piedade reverencial, afastam-nos completamente do seu raio de interesse e consideram-nos seres não competitivos nos certames românticos e sexuais.

Uma das mentiras mais espertas que conheço na relação homem-mulher é pronunciada pelas mulheres que dizem: “Considero que cabelo branco em homem é charme”. Grosso e ledo engano.

Cabelo branco em homem só fica charmoso se o homem tiver de 20 a 30 anos, o que então se torna um exotismo suscetível de curiosidade, objeto de atração.

Mas, se o homem tiver mais de 30 anos ou for quarentão ou cinquentão, cabelo branco é um estigma, uma marca aviltante.

Homem de cabelo branco se torna um homem respeitável, mas jamais será para as mulheres um homem desejável.

Se cabelos brancos masculinos fossem charme, todos os argentinos de mais de 50 anos não pintariam os cabelos como pintam. E o pior é que lá pintam com aquela cor acaju que os tintureiros fazem tornar os “coroas” numa multidão de alazões.

Vi como os argentinos que ingressam na terceira idade fogem dos cabelos brancos como o diabo da cruz, suportando a humilhação da tintura, então é porque cabelos brancos masculinos podem ser considerados uma maldição.

Tanto que, na grande maioria das empresas gaúchas, há executivos com mais de 50 anos que pintam os seus cabelos para não serem demitidos, nessa perversa lógica empresarial de que devem se livrar dos funcionários velhos.

Vi com estes meus olhos que a terra vai comer um executivo de 48 anos, que foi chamado a uma entrevista numa empresa que estava recrutando efetivos, submeter-se ao ato infame de mergulhar toda a sua cabeça em um tacho de tinta preta para tingir os cabelos.

Ele achava, com proveniência, que não lhe dariam o emprego se mostrasse a nu os seus cabelos brancos.

Não dariam mesmo.

Este é um Estado, e um país, em que é vergonhoso ser velho.

Velho aqui significa doente, inválido, Jesus está chamando.

E o mais doloroso é que há empresas que descartam os cinquentões ou os de mais de 40 anos, jogando fora a experiência desses homens, que supera a imaturidade profissional dos jovens de goleada.

A minha vingança é que todos algum dia serão velhos. E, por isso, serão demitidos ou não admitidos.

Que sórdido preconceito esse contra a pré-velhice!

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