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sábado, 4 de setembro de 2010
4 de setembro de 2010 | N° 16448
CLÁUDIA LAITANO
Porto sem horizonte
Grandes e pequenas cidades brasileiras estão se agitando para a Copa do Mundo como as mocinhas de antigamente antes de um baile a rigor. Há um lufa-lufa de reformas, licitações, construções, discussões de projetos... A torcida, obviamente, já começou – e não apenas pelo sucesso da Seleção, mas para ver o país mostrar-se à altura das suas maiores ambições. Vai que é tua, Brasil.
Em um território abençoado por tantos quilômetros de litoral ensolarado, não é de se estranhar que alguns dos mais vistosos projetos de revitalização urbana estejam sendo instalados à beira d’água. Menos surpreendente ainda é o fato de que muitas prefeituras tenham previsto a instalação de teatros e museus como carros-chefes dessa repaginada geral da nação.
A chamada “economia da cultura” – o negócio de ganhar dinheiro fazendo a inteligência, os olhos e o coração funcionarem mais aceleradamente – já movimenta cerca de 7% do PIB mundial.
Nada mais natural do que juntar a fome com a oportunidade de banquete, usando os investimentos públicos e privados na preparação da Copa de 2014 para dar um empurrãozinho na economia cultural – que em todos os lugares do mundo gira melhor com uma mão do Estado e outra da iniciativa privada.
O retorno vem mais rápido do que se imagina. Os exemplos de cidades que entraram no mapa (turístico, econômico e cultural) graças a um belo museu ou a um belo teatro são tantos, que nem vale a pena gastar linhas falando nisso.
No Rio, há dois belos projetos em andamento: na Praia de Copacabana, está sendo erguido o Museu da Imagem e do Som, projetado pela arquiteta americana Elizabeth Diller, e no Píer Mauá, na outrora abandonada área portuária, será instalado o ambicioso Museu do
Amanhã, projeto do espanhol Santiago Calatrava. Em Vitória, no Espírito Santo, o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, um dos mais premiados e reconhecidos do país, projetou o Museu de Arte Moderna da cidade, na Enseada do Suá.
Enquanto isso, em Porto Alegre, parece que enterraram um sapo na nossa praia. No projeto apresentado esta semana para a revitalização da orla do Guaíba, não aparece nem teatro, nem museu, nem cinema, nem sequer uma concha acústica mixuruca.
Mas alguém ainda se surpreende com isso? A regra na nossa cidade, nos últimos (muitos) anos, tem sido a seguinte: onde quer que seja necessário um debate público para tirar um projeto cultural do papel, os entraves se multiplicam e as ideias param ou não vão adiante.
O retrato desse empacamento endêmico são as continuamente adiadas obras do novo Teatro da Ospa – um monumento à nossa falta de empenho e ao nosso desinteresse pelos empreendimentos culturais da cidade.
(Uma bem-vinda exceção: a parceria entre a administração municipal e a iniciativa privada para devolver à cidade o Auditório Araújo Vianna. Por que não tiveram essa ideia antes?)
O teatro que não sai do papel, o novo cais que não prevê teatro nem museu e a ausência de políticas culturais públicas de longo prazo no Estado são todos sintomas de um mesmo mal: encolhimento agudo de horizontes. Nesse ritmo, vamos chegar a 2014 ainda menores do que em 2010.
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