segunda-feira, 27 de setembro de 2010



27 de setembro de 2010 | N° 16471
PAULO SANT’ANA


Os dois maiores

Continuo imantado pela entrevista que fiz com o dr. Ivo Pitanguy.

Eu já sabia que além de notável cirurgião ele era um ótimo filósofo.

Então quando ele disse que a “melhor cirurgia é a gente se tolerar a si próprio”, eu fui às nuvens.

E quando ele disse que “difícil é não explicar Deus”, como que querendo dizer que é muito fácil acreditar que Deus não existe, eu – e acredito que todos que nos leram – cheguei a um êxtase intelectual e filosofal orgasmático.

Este Ivo Pintanguy que me operou e já operou milhares de pessoas é mesmo um ser diferenciado.

Ele tem 84 anos e me disse que ainda opera, no mínimo, duas vezes por semana.

Constitui-se assim num exemplo para todos os médicos e para todas as pessoas, um grito de alerta no sentido de que é possível a todos nós chegarmos aos 84 anos e ainda produzirmos talvez até mais e melhor do que produzíamos quando tínhamos apenas 40 anos.

Pitanguy saiu de Porto Alegre agradecido pelas coisas simples e gostosas que ouviu e comeu aqui: disse que estava divino o cordeiro mamão que lhe serviram e recordou com água na boca a linguiça de Erechim que os amigos lhe mandam.

Em seu rosto e em suas palavras, nenhuma queixa pela velhice, ao contrário, a exalta como uma aproximação com Deus, além da valiosa experiência que ela carrega.

Ele agradece a Deus por tudo que foi, é e talvez pela posteridade que sua lembrança irá deixar.

Pintanguy é um dos grande vultos que marcam a história brasileira, como Chico Buarque e Villa Lobos.

Por sinal, estes dias escolhi Leonardo da Vinci e William Shakespeare como os dois maiores vultos da humanidade em todos os tempos, vejam bem que acima de Ghandi e Freud.

Hoje, depois desta entrevista que fiz com Pitanguy, o escolheria, junto com Chico Buarque, como os dois maiores vultos brasileiros de todos os tempos, acima de Getúlio Vargas e do Barão do Rio Branco.

Desculpem, meus leitores e leitoras, por esta mania excêntrica que tenho de hierarquizar os homens, como se fosse possível isso, diante de tantas diferenças de estilos e atividades.

É que estou sempre querendo saber quem foi o melhor. Estes dias classifiquei Roberto Carlos e Emílio Santiago como os melhores cantores brasileiros da atualidade.

Assim como classifiquei como as melhores cantoras brasileiras de todos os tempos Dalva de Oliveira e Elis Regina.

Os dois maiores poetas nossos para mim foram Augusto dos Anjos e Olavo Bilac.

Os dois maiores jogadores do Grêmio em todos os tempos foram Airton Ferreira da Silva e Renato Portaluppi. Perdão a Eurico Lara a quem não vi jogar, mas dizem dele coisas fantásticas.

E um dos dois maiores jogadores colorados de todos os tempos, pelo que ouvi falar, porque só assisti a três jogos dele, foi Tesourinha. E o segundo oscila entre Falcão, Carpegiani, Figueroa e Chinesinho, estes quatro eu os vi.

E quando um dia forem escolher os dois maiores jornalistas gaúchos de todos os tempos, sonho, talvez com pretensão exagerada, que meu nome esteja no painel.

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