domingo, 12 de setembro de 2010


CLÓVIS ROSSI

O futuro a Lula pertence

SÃO PAULO - Um dia, mal iniciado o primeiro período Lula, seu então secretário de imprensa, Ricardo Kotscho, perguntou ao chefe: "Se você não fosse presidente, o que gostaria de ser?".

"Candidato", respondeu Lula.

De fato, Luiz Inácio Lula da Silva foi, durante os pouco menos de oito anos seguintes, um presidente-candidato. Deu certo: desfilar sua "candidatura" pelo país e pelo exterior foi fator importante para a popularidade de que goza.

Mais que importante, foi o fator fundamental para construir do nada a candidatura de Dilma Rousseff, que as pesquisas dizem estar a apenas três semanas de obter uma vitória com números que nem o próprio Lula conseguiu, quando candidato de verdade.

Lula vai continuar candidato mesmo depois de sua segunda reeleição, pela interposta pessoa de Dilma? Duvido que haja alguém disposto a responder "não".

Daí decorre uma segunda questão: quais as consequências para um governo Dilma de ter seu padrinho como eterno candidato? Depende. Se a bonança se mantiver, será ótimo para ambos: Lula continuará a banhar de popularidade uma sucessora cujo teor de carisma se aproxima de zero.

Se, ao contrário, houver turbulências, o homem que hoje é o grande ativo de Dilma pode se tornar a sua dor de cabeça principal.

Explico: a bonança é tida como obra de Lula. A continuidade da bonança também será herança de Lula. As dificuldades é que serão culpa de Dilma.

Hoje por hoje, o céu parece azul e límpido para o próximo governo. Mas raios em céu azul também ocorrem, e ninguém consegue prevê-los. Um dos eventuais raios podem ser novas demandas do pessoal que está entrando na classe média. Nesse caso, manter a bonança será pouco; aumentá-la é que carimbará (ou não) o governo Dilma Rousseff.

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