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quinta-feira, 2 de setembro de 2010
02 de setembro de 2010 | N° 16446
LETICIA WIERZCHOWSKI
Coco e Igor
A vida amorosa de Coco Chanel rende pautas absolutamente variadas. Mademoseille teve um notório grande amor: o milionário inglês Arthur “Boy” Capel – que foi também o seu primeiro investidor, financiando a sua primeiríssima loja de chapéus. Boy morreu jovem num acidente de carro, e o seu desaparecimento deixou Coco inconsolável por muitos meses.
Mas os amantes de Coco foram muitos e variados: envolveu-se primeiramente com um nobre francês, Etienne Balsan, que a tirou do submundo dos cabarés para alçá-la ao círculo social dos artistas e ricaços que frequentavam a sua propriedade no campo. Mademosseile também teve um romance com Richard Grosvenor, o Duque de Westminster, a maior fortuna da Inglaterra, e em cujo guarda-roupa Chanel se inspirou para criar os seus famosos tailleurs.
Entre um magnata e outro, Coco andou de chamegos com um alto oficial do III Reich à época da ocupação nazista na França.
Porém, antes do seu dito colaboracionismo com o Reich, e bem depois de enterrar Boy e viver o seu luto numa casa com as paredes inteiramente forradas de preto, Coco Chanel emocionou-se com a música de Stravinsky.
Ela estava na plateia na famosa noite em que o público francês revoltou-se durante a apresentação de A Sagração da Primavera. Espantados com a dissonância, a assimetria e a alternância de ritmos da música de Stravinsky, os parisienses fizeram a maior rebelião no teatro.
Porém, entre os gritos e insultos, uma bela mulher apenas sorria (mais bela ainda, na pele da atriz Anna Mouglalis, que deixou Audrey Tautou comendo poeira em seu Coco antes de Chanel.).
Algum tempo depois, ao cruzar com Igor Stravinsky numa festa, Chanel resolve ajudá-lo, oferecendo-lhe sua casa de campo para que o compositor possa trabalhar lá com a família. Coco – que abolira os espartilhos e ousara vestir as mulheres com a liberdade do jérsey – sabia muito bem como era difícil quebrar paradigmas e acreditava no gênio de Stravinsky.
Mas, embaixo do seu suéter preto e dos colares de pérolas, também batia um coração: Mademoseille não dava ponto sem nó, e logo Igor e ela viveriam um tórrido romance.
É desse romance que trata Coco Chanel e Igor Stravinsky. Belissímo filme, com atuações perfeitas, figurino de cair o queixo e cenários e paisagens arrasadores. A trilha sonora, nem precisa dizer, é Stravinsky. E o roteiro, delicado, fascinante, com uma respiração muito peculiar, cumpre elegantemente a sua tarefa. Um filme estético sim, mas muito mais do que isso.
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