quarta-feira, 22 de setembro de 2010



22 de setembro de 2010 | N° 16466
PAULO SANT’ANA


Caduquice lúcida

Cada vez mais dou razão à expressão latina: “O homem é lobo do homem”.

Pois o Fidel Castro declarou esses dias que se arrepende de ter demitido homossexuais do governo e ao mesmo tempo ter feito recolher a campos de trabalho os gays e as lésbicas.

Passou 50 anos perseguindo os gays e as lésbicas e agora declarou: “Aqueles foram momentos de grande injustiça, grande injustiça!”.

Fidel acrescentou: “Estou tentando limitar minha responsabilidade nisso tudo, porque, é óbvio, pessoalmente não tenho esse tipo de preconceito”.

Barbaridade. Permitiu que os gays e as lésbicas fossem escorraçados, maltratados, desempregados, assinou os decretos que os amaldiçoou e agora vem declarar que tudo foi feito sem a sua convicção e talvez vontade!

Foram 50 anos de injustiças, de perseguições, de maus-tratos e presume-se que até de tortura.

E, agora que Fidel Castro prepara-se para morrer, quer fazer média com os gerentes da vida eterna dizendo-se arrependido. Mais que arrependido, Fidel declara-se sem culpa ao dizer que pessoalmente ele não tem preconceito contra os gays e as lésbicas.

Mas se ele, que era o dono absoluto do poder, parecendo que ainda o é, não tem culpa, quem é que tem culpa? O Papa ou o Bush?

Outra declaração do Fidel na semana passada: “O modelo econômico cubano não funciona mais, nem pra nós”.

É incrível o que vem dizendo Fidel Castro, parece que a sua caduquice o trouxe à lucidez.

Ou seja, o povo cubano teve azar, a revolução tinha de ter acontecido agora e não quando Fidel era moço e só cometia ações e ideias erradas.

Só a egiptologia pode explicar como podem conceituados colunistas de jornal escreverem hieroglifos todos os dias em seus espaços.

Há dias em que pagaria R$ 100 por um só merengue que me fosse alcançado.

Como há dias em que eu daria tudo o que tivesse para que me alcançassem uma goiaba rósea.

Como há dias em que trocaria todos os meus pertences com quem me oferecesse um prato de polenta mole com carne de panela.

Só no feriado é que fui saber que sou tradicionalista e conservador.

Porque ao ver aquela multidão de gremistas correr para inaugurar o espaço da nova Arena, senti que sou uma pessoa ultrapassada ao ter entendido que o Estádio Olímpico é a morada eterna de todos os gremistas.

Foi comovente ver aquela massa gremista dirigir-se ao Humaitá e perfilar-se no cordão da esperança.

No dia em que a Arena for inaugurada, daqui a poucos anos, eu planejo estar no ato solene e declarar, como Fidel Castro, que eu estava errado.

E que estavam certos os que apostaram com fé num novo estádio.

Nenhum comentário: