ELIANE
CANTANHÊDE
Sim, eles
podem
BRASÍLIA
- Reservo a última coluna antes de rápidas férias para tratar da mania de certos
governantes e seus partidos de se sentirem donos do governo e do próprio país.
Quando
Marisa Letícia mandou a cadelinha passear em carro oficial, desenhou uma imensa
estrela vermelha no Alvorada e pôs os amigos dos filhos para fazer turismo em
avião e prédio públicos, estava dizendo que se sentia "em casa" e
sinalizando para os vários escalões do PT que sim, nós podemos. Quer dizer:
eles podem.
Foi
assim, a partir de miudezas cheias de significados, que os governos do partido
foram se imiscuindo nos gabinetes, vulgarizando decisões, aparelhando estatais,
relativizando o conceito de ética e corrompendo seus quadros.
A
chegada ao poder incluiu milhões de pessoas e rendeu recordes de popularidade e
aplausos no mundo inteiro para Lula, mas inflou o seu ego e foi letal para o
partido. Desfez-se a aura, foram-se as ilusões, exauriram-se os iludidos. Os
espertos correram a tirar suas casquinhas.
As
histórias memoráveis, a guerra contra a corrupção, a paixão da militância, as
lágrimas torrenciais na derrota de Lula para Collor, em 1989, tudo foi por água
abaixo e o partido patina no mesmo lodo dos demais.
Poucas
vezes, como no escândalo Rose, adversários e aliados de diferentes tendências
condenaram tanto a confusão entre público e privado, citada em 9 entre 10
artigos de opinião. Ninguém tem nada a ver com a vida privada de ninguém, desde
que não invada o bem público, fira princípios elementares de gestão e confira
poderes extraterrestres a meros(as) terráqueos(as).
O
que começa com cadelinhas para lá e para cá usando carro, motorista e gasolina
públicos é o que acaba em passaportes especiais, nomeações esdrúxulas,
apartamentos fantásticos e... mensalões. Não foi para isso, convenhamos, que o
PT foi criado e subiu a rampa do Planalto.
PS -
Até a volta!
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