DANUZA
LEÃO
Coisas em
geral
Devem
ficar no pedestal, pois fizeram pelo país o que ele mais precisava: acreditar
na sua Justiça
Agora
que os festejos já acabaram, é a hora do perigo, então vou me dar ao direito,
já pedindo desculpas, de dar umas dicas à Suprema Corte.
Mas
antes vou estranhar um pouco a lista dos artistas convidados para a posse,
todos negros: Lázaro Ramos, Milton Gonçalves, Martinho da Vila; brancas, só
Regina Casé e Lucélia Santos (mas essa tinha direito, porque foi a Escrava
Isaura); não será isso uma forma de preconceito? Vamos falar a verdade: neste
momento, quem é branquelo não está com nada.
Convites
de todos os tipos vão surgir, e eu diria que não aceitassem nenhum. Quase
nenhum.
Almoçar
e jantar, só com amigos, mas amigos de infância ou dos tempos pré-mensalão. E
se num restaurante um fã chegar com o celular, devem deixar que batam a foto,
sim, para não ficarem antipáticos, mas a uma certa distância; e sérios, para
não parecerem íntimos. Pode até pintar um convite para o ministro Fux gravar um
CD.
A
imprensa vai querer saber das intimidades, qual o prato preferido, a pasta de
dentes que usam, se praticam algum esporte, por que time torcem, se veem
novela, e peço a Deus que dê muito juízo aos ministros para não responderem a
pergunta alguma.
Revistas
de decoração vão tentar fotografar a casa de cada um deles, e suas mulheres
serão seguidas nos cabeleireiros para que o mundo saiba se elas pintam ou não o
cabelo, e a cor do esmalte que usam. E se algum deles for solteiro, manda a
prudência que eles guardem uma castidade digna de um jesuíta, porque assédio
vai haver, ah, isso vai.
Tudo
tem um preço, e o deles vai ser ficarem o mais longe possível das badalações;
eles são seres humanos, e algumas serão tentadoras, mas devem resistir, porque
o mundo é assim: um dia se é herói, e qualquer descuido faz com que o ídolo da
véspera seja a Geni de amanhã.
O
grande perigo vai ser o Carnaval; convites para os melhores camarotes vão
pintar, se bobear até mesmo para sair numa escola de samba, o que seria a
catástrofe final. Mas um ministro também é gente, e se o prefeito sai na bateria
da Portela, por que eles não poderiam? Porque não podem. E as ministras que se
cuidem, pois não é impossível, com todo o respeito, que sejam convidadas até
para posar para alguma revista de moda -ou pior.
Quando
o time estiver completo, será mais conhecido do que a seleção, e devem
continuar no pedestal em que foram colocados pelo povo brasileiro, pois fizeram
pelo país o que ele mais precisava: acreditar na Justiça brasileira, que andava
com a reputação mais pra lá do que pra cá.
PS 1
- Quem vai controlar se os réus condenados a penas alternativas vão cumpri-las?
Com uma boa conversa, pula-se um fim de semana, se chove muito não há como
chegar à penitenciária para dormir, se ficarem doentes atestados médicos é que
não vão faltar, e os condenados são espertos: como se diz por aí, é gente que
tira as meias sem precisar tirar os sapatos.
PS 2
- Escrevo na Folha há dez anos; são mais de 500 colunas, e acho que nesse longo
tempo já deu -ou deveria ter dado- para saber quem eu sou. Reli o que escrevi
na minha última crônica, refleti sobre o que queria verdadeiramente dizer e
cheguei ao seguinte: nós, seres humanos, somos únicos, ricos ou pobres, gênios
ou pessoas comuns, e essa é a grande riqueza da vida: não existem duas pessoas
iguais, e ninguém quer ser igual ao outro. Se eu comprasse o mais lindo vestido
para uma festa e lá encontrasse Madonna com um igual, talvez voltasse em casa
para trocar o meu.
Se
comprasse um iate com 38 cabines, com uma tripulação vestida por Jean Paul
Gaulthier, e cruzasse com outro igual, pertencente a Donald Trump, meu
brinquedinho perderia a graça.
Porque
faz parte querer ser original e único, por isso os artistas, os costureiros, os
arquitetos, os decoradores, os escritores, os médicos, os cientistas, todos
trabalham para conseguir que suas obras sejam as melhores e, consequentemente,
únicas. Existem dois tipos de pessoa: os que vivem para seguir o que está na
moda em matéria de viagens, estilo, restaurantes, hotéis, etc., enquanto outros
preferem viver na contramão.
Eu
pertenço ao segundo grupo: não gosto de multidões, não vou a shows, não vou a
festas, não vou a restaurantes da moda e não viajo na alta estação, prefiro
ficar em casa lendo um livro; falei sobre o porteiro como poderia ter falado
sobre qualquer pessoa que faz parte dessa multidão que passa a vida indo atrás
do que ouviu dizer que está "in", o que para mim é apenas impossível.
Lamento, foi um exemplo infeliz.
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