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sábado, 5 de março de 2011
05 de março de 2011 | N° 16630
NILSON SOUZA
Chute na coruja
Albert Einstein disse que conhecia duas coisas infinitas, o universo e a estupidez humana, mas que não tinha certeza sobre a primeira. Einstein, com sua mente privilegiada, pensou e criou coisas maravilhosas.
Ele nos representou bem em sua passagem pela Terra. O ser humano foi dotado pela natureza de um cérebro capaz de imaginar, de sonhar, de inventar, de transformar o mundo para melhor.
Mas este mesmo cérebro guarda nos seus recônditos uma faísca de estupidez destruidora, que leva o homem a cometer atrocidades, a fazer guerras, a matar seus semelhantes e – o que me parece mais assombroso do nosso pior lado – a maltratar animais indefesos.
O que pode ter passado pela cabeça do jogador que chutou a coruja num jogo do futebol colombiano? É uma cena inacreditável, está no youtube para quem quiser ver e já foi reproduzida na televisão.
Ao ver que uma dessas corujas que moram nos campos de futebol como os nossos quero-queros fora atingida pela bola, o árbitro parou o jogo a fim de que a ave fosse retirada de campo. Então um mastodonte fardado aproximou-se lentamente como se fosse juntá-la.
A coruja ainda olhou para ele com aquele olhar arregalado de gente assustada – e aí o cara desferiu um chutão de pé esquerdo na ave ferida, com o claro objetivo de lançá-la para fora de campo. Depois, ao prestar contas para a polícia e para os indignados repórteres que o entrevistaram, ele disse que sua intenção era fazer o bicho levantar voo.
Somos até capazes de voar. Inventamos aparelhos fantásticos, que nos fizeram mais poderosos do que os pássaros na sua especialidade, que reduziram a distância entre os continentes, que nos levaram à Lua e tornaram o universo menor do que parecia a Einstein quando formulou sua premonitória comparação.
Mas também somos capazes de acelerar nossas máquinas sobre um grupo de ciclistas, de mandar pessoas para a câmara de gás por motivos raciais, de humilhar e mutilar nossas mulheres, de roubar a merenda escolar de crianças.
Parece que temos mesmo dentro de nós aqueles dois cães da lenda indígena, que estão sempre brigando para se impor: um, cruel e sanguinário; o outro, bom e dócil. E, de vez em quando, alimentamos mais o chacal.
Ainda assim, nunca imaginei que alguém da nossa espécie fosse capaz de chutar uma coruja ferida. Espero que os mastodontes (se ainda houver algum congelado por aí), os cães e os chacais me perdoem pelas comparações.
Einstein tinha razão. Não dá para ter certeza mesmo se o universo é infinito. Já quanto à estupidez humana...
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