quinta-feira, 31 de março de 2011



31 de março de 2011 | N° 16656
EDITORIAIS


A delinquência de colarinho

O governo do Estado tem o compromisso de corresponder às expectativas criadas com as providências que prometem atacar a delinquência instalada dentro dos próprios organismos estatais. A anunciada devassa no Daer é uma resposta rápida do Executivo às denúncias de que servidores agiam em conluio com empresas para saquear os cofres públicos, mas só terá sentido se não frustrar os que levaram a sério o que promete fazer.

São fortes os indícios de que uma quadrilha agia dentro e fora do governo para fraudar, não só as licitações dos controladores de velocidade, mas obras e serviços da autarquia. A investigação deve ser rigorosa, para que se saiba como as gangues de colarinho branco agiam há tanto tempo impunemente. Que se identifiquem todos os envolvidos e, a partir das apurações, corrompidos e corruptores tenham punição exemplar.

O caso do Daer se soma, lamentavelmente, a outros episódios em que funcionários do próprio governo se articulavam com especialistas em assaltar recursos que deveriam ser bem vigiados. Este é um dos aspectos deploráveis desses casos.

A fragilidade nos controles dos atos de servidores, dos gastos e das auditagens permite que os delitos se repitam, como se nenhum fato anterior tivesse pelo menos servido de exemplo para que se adotassem medidas corretivas. Percebe-se, assim, que o setor público é o ambiente propício para a ação de quadrilheiros, que apenas atualizam seus métodos para continuar agindo.

Como funcionários que deveriam ser os defensores do patrimônio público atuavam contra os interesses que deveriam preservar? Como esses grupos privatizam e manipulam informações de governo, sem que ninguém seja capaz de interromper suas atividades criminosas? A força-tarefa montada pelo Executivo tem o compromisso de oferecer respostas com agilidade.

É salutar que a auditoria conte com a participação de técnicos do Ministério Público e do Tribunal de Contas, para que se faça de fato uma devassa nos contratos, na relação promíscua de funcionários com fornecedores e na estrutura da autarquia.

A investigação deve se estender a outros organismos estatais, para que a reestruturação não alcance somente o Daer nem seja apenas administrativa. O setor público, abalado sistematicamente por falcatruas, necessita de uma profunda revisão de condutas.

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