Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 29 de março de 2011
29 de março de 2011 | N° 16654
LUÍS AUGUSTO FISCHER
Escritor gaúcho morreu
Capa da Folha de S. Paulo na segunda-feira, 28 de fevereiro último: “Escritor gaúcho Moacyr Scliar morreu”. Capa do site G1, da Globo, sediada no Rio de Janeiro, no dia 27 de fevereiro: “Morre o escritor gaúcho Moacyr Scliar”. Que Scliar tenha merecido destaque, nada mais correto, por sua obra e sua presença no cenário literário brasileiro e mesmo ocidental.
Acresce que foi colunista semanal do jornal paulista por muitos anos, com uma pequena ficção construída a partir de nota verdadeira de algum meio de comunicação. Escrevia resenhas para outros veículos paulistas e cariocas. Então, o que me pergunto é por que o “gaúcho”. Precisava? Ele, um nítido cosmopolita, traduzido para vários idiomas, membro da Academia Brasileira de Letras, cultor literário da tradição judaica, por si só internacional?
A hipótese positiva dirá que o adjetivo pátrio com que o identificaram é uma homenagem e um reconhecimento ao fato de ele nunca ter escondido que era de fato gaúcho, e, pelo contrário, de ter aproveitado muita matéria-prima sulina (Porto Alegre, o bairro Bom Fim, a figura de Getúlio, a Revolução de 30, itens encontráveis em vários momentos de sua obra) para compor sua ficção.
Poderá ter sido um crédito com conteúdo positivo, na medida em que seja positivo chamar alguém de gaúcho – em alguns círculos, ser oriundo deste Estado aqui remete a valores positivos, o frio, a cultura, Gisele Bündchen, Ronaldinho Gaúcho.
Acresce que Scliar não apenas era daqui como, seguindo o exemplo de Erico e Luis Fernando Verissimo, Lya Luft e Martha Medeiros neste particular, permaneceu aqui depois de fazer sucesso. São gerações distintas, claro, mas a manha centralista é a mesma: no Rio e em São Paulo há muita gente que simplesmente não concebe que o sujeito permaneça na província podendo viver na metrópole. (Eu mesmo, em escala naturalmente menor, já fui arguido: se eu podia estar na USP, por que permaneço na UFRGS, cá em Porto Alegre?)
Tem gente que acha que nós somos bairristas, o que de resto corresponde à verdade; mas tem o outro lado, este aí, que é o nos fazerem bairristas, nos empurrarem para o bairrismo. Então me diz: se morresse digamos a Lygia Fagundes Telles, eles na Folha escreveriam “Escritora paulista Lygia Fagundes Telles morreu”?
Se fosse João Ubaldo Ribeiro (ele e ela gozam de perfeita saúde no momento em que escrevo, é bom esclarecer): “Escritor baiano João Ubaldo Ribeiro morreu”, ou, pior ainda, “Escritor baiano residente no Rio de Janeiro João Ubaldo Ribeiro morreu”, seria isso?
Se não precisa para esses dois tal identificação, por que Scliar precisava? Por acaso ele não estaria suficientemente identificado como “escritor” ou “escritor brasileiro”?
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