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terça-feira, 8 de março de 2011
08 de março de 2011 | N° 16633
J. A. PINHEIRO MACHADO (interino)
A revolução das bicicletas
Foi necessário o gesto desatinado de um motorista, atropelando ciclistas em Porto Alegre, para que surgisse um debate consistente, muito além das bicicletas, sobre o trânsito, os automóveis e a crise de circulação (que significa dizer a crise da vida) na cidade. Confirmou-se o lugar comum: mais fortes do que mil palavras, as imagens da cena provocaram a perplexidade que se espalhou pelo Brasil, virou best seller na internet e chegou às páginas do New York Times e às TVs e jornais do mundo.
Lembrei da professora de História, na primeira série ginasial, nos contando que o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, em julho de 1914, foi a centelha que incendiou velhas rivalidades, deflagrando a Primeira Guerra Mundial. Arregalando levemente os olhos, a professora nos advertia: “Às vezes, um fato isolado tem o poder de mudar a História.”
Foi assim, entre tantos outros exemplos recentes e remotos, em outubro de 2005, inesquecível para os franceses, quando a notícia das mortes de dois jovens africanos, eletrocutados numa estação elétrica tentando fugir da polícia, sacudiu Paris e se espalhou pelo país numa onda de violência que durou três semanas, com o saldo de três mil presos, 10 mil carros incendiados e um prejuízo de 300 milhões de dólares: o preço para a França perceber que tinha 5 milhões de imigrantes (10% de sua população) que viviam discriminados e em más condições.
A repercussão mundial do atropelamento dos ciclistas tem esse poder deflagrador de uma reflexão séria. A edição de domingo passado de ZH trouxe pelo menos dois documentos indispensáveis a esse debate. Numa entrevista, o antropólogo Roberto DaMatta dizia que “todos nós, não só esse criminoso que teve um surto psicótico, surtamos no trânsito”, mas também (“sem querer minimizar o incidente, que foi um crime”) advertiu as responsabilidades do ciclista, do motociclista, do carroceiro e do pedestre, que se acham “isentos de regras”.
O segundo documento precioso da ZH de domingo sobre o tema foi o registro da Rosane de Oliveira sobre o deputado José Luiz Stédile que tenta, em vão, usar a bicicleta em Brasília para percorrer os 6 quilômetros entre o seu apartamento e o prédio do Congresso, como gesto de princípio: “As cidades têm hoje mais carros do que residências. Em Cachoeirinha, há 41 mil residências e 45 mil veículos.”
Anos atrás, inspirado numa temporada em Heidelberg com suas ciclovias maravilhosas, decidi comprar uma bicicleta para alguns deslocamentos em Porto Alegre. Entretanto, depois de muitos sobressaltos, com fechadas, buzinadas e xingamentos, tive medo de não sobreviver à aventura e mandei a bicicleta para a praia.
Agora, os tempos podem mudar. A besta está solta, diria Shakespeare. Pelo menos, o debate está aberto. A revolução pacífica das bicicletas está nas ruas. Confesso minha adesão interesseira: quero trazer a magrela de volta do exílio praiano
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