quinta-feira, 24 de março de 2011


24 de março de 2011 | N° 16649

MORRE UM MITO

Quem tem medo de Liz Taylor? A atriz inglesa foi estrela aos 12 anos, divorciada aos 18, viúva aos 26 e musa a vida inteira

Ao se apagar a luz dos olhos violetas de Elizabeth Taylor, boa parte do brilho da época de ouro de Hollywood também se extinguiu. A última grande diva do cinema americano despede-se deixando uma filmografia que comprova o casamento de beleza e talento da atriz. No escuro da sala de projeção, a aparição cintilante de Liz hipnotizava as plateias de um jeito mágico que o cinema não possui mais.

Até sua última participação no cinema em Os Flintstones (1994), Elizabeth Taylor atuou em 54 longas-metragens. Sua trajetória nas telas, iniciada aos 10 anos com There’s One Born Every Minute (1942), foi tão rumorosa quanto sua vida pessoal.

Os maridos e amantes, a dependência de bebida e drogas, os distúrbios alimentares que a fizeram engordar em excesso, a série de doenças, o apoio a atores amigos problemáticos, as causas humanitárias, a paixão pelos diamantes – o perfume de glamour e escândalo sempre brigou pelos holofotes na carreira de Liz com o sucesso ou o fracasso de seus filmes.

Nascida em Londres em 1932, filha de americanos, Elizabeth Rosemond Taylor mudou-se para os Estados Unidos aos sete anos, fugindo da iminente II Guerra.

Depois de uma discreta estreia no cinema, a jovem atriz despontou em Lassie – A Força do Coração (1943), conquistando o público nos anos seguintes em papéis que destacavam sua beleza excepcional e seu porte gracioso. As interpretações de Liz ganharam relevo em O Pai da Noiva (1950) e O Netinho do Papai (1951), filmes que marcaram a transição de adolescente a adulta. A namoradinha da América revelou-se então mulher de personalidade forte em dramas como Um Lugar ao Sol (1951),

No Caminho dos Elefantes (1954), A Última Vez que Vi Paris (1954) e A Árvore da Vida (1957). A década de 1950, no entanto, também marcou o início da infindável série de polêmicos relacionamentos da artista: Liz se casou pela primeira aos 18 anos, com o playboy Nicky Hilton, matrimônio que durou 203 dias e terminou com agressões físicas e verbais, depois uma lua de mel de três meses na Europa.

No enterro de seu terceiro marido, o produtor Michael Todd, ela foi acompanhada por Eddie Fisher, melhor amigo do falecido – e logo a viúva roubaria o cantor de sua esposa, a atriz Debbie Reynolds.

Ao mesmo tempo, Elizabeth Taylor tornava-se amiga e confidente de jovens astros em ascensão com problemas emocionais e sexuais: James Dean, Rock Hudson – com quem contracenou no clássico melodrama Assim Caminha a Humanidade (1958) – e, principalmente, Montgomery Clift, seu parceiro em filmes como Tarde Demais (1949) e De Repente, no Último Verão (1959).

Se alguns colegas enxergam Liz como uma figura materna, outros como Richard Burton viam uma linda e envolvente mulher: o ator galês conheceu a estrela durante a filmagem da superprodução Cleópatra (1963), casando-se no ano seguinte com a intérprete da sedutora rainha do Egito.

O saldo do tumultuado envolvimento com Burton foram dois matrimônios, duas separações e 11 longas – como Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966) e A Megera Domada (1967), filmes em que ambos vivem relacionamentos violentos e passionais.

O desempenho impressionante de Liz como a neurótica esposa no excelente Quem Tem Medo... – dirigido por Mike Nichols a partir de uma peça de Edward Albee – rendeu o segundo Oscar da carreira da atriz. A primeira estatueta veio com o fraco Disque Butterfield 8 (1960) – a Academia teria premiado Liz por conta de sua saúde frágil, que quase a matou na época e a obrigou a fazer uma traqueostomia às vésperas da cerimônia.

Em 1993, ela ainda receberia um Oscar honorário por sua militância por causas humanitárias, como a luta contra a Aids.

A partir dos anos 1970, Elizabeth Taylor começou a aparecer na imprensa mais como celebridade do que como atriz em atividade. A artista enfrentou uma longa história de mais de 30 anos de abuso de álcool e drogas. Além de ter sido internada diversas vezes em clínicas de desintoxicação, sofreu com distúrbios alimentares e por algumas vezes tentou suicídio.

A atriz ainda tomava aspirinas e analgésicos para livrar-se das dores ocasionadas por uma queda de cavalo aos 12 anos – ela fraturou três vértebras e passou a depender de remédios desde então. Nos últimos anos de vida, Liz foi internada diversas vezes por problemas de saúde, que incluíram um tumor benigno no cérebro e complicações cardíacas.

A imagem de Elizabeth Taylor que vai ficar para a eternidade, porém, é a da jovem de sorriso encantador e olhar faiscante, da morena de corpo curvilíneo e voluptuoso, da musa de temperamento sanguíneo, da diva como não existe mais – na definição do cineasta italiano Franco Zeffirelli, que a dirigiu em A Megera Domada.
ROGER LERINA

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