quinta-feira, 17 de março de 2011



17 de março de 2011 | N° 16642
FARRA DOS CELULARES


Alerta de lojistas levou a advogada

Compra de 50 aparelhos em uma única vez motivou Susepe a monitorar defensora detida com 28 equipamentos em cadeia

A aquisição de até 50 celulares em uma única leva, a procura por promoções e o pagamento à vista ajudaram a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) a descobrir um suposto esquema de distribuição de aparelhos para detentos.

A compra atípica da advogada Luciana Kaliski Garcia, 36 anos, levou lojistas a alertar os agentes penitenciários, que passaram a monitorar o comportamento dela nas cadeias gaúchas em 10 de janeiro. Mesmo flagrada com 28 celulares dentro da Penitenciária Modulada de Montenegro, no Vale do Caí, na terça-feira, ela responderá em liberdade em razão de o crime ser considerado de baixo potencial ofensivo.

Com dinheiro vivo, a advogada comprava no próprio nome grandes quantidades de aparelhos, conforme a superintendência. Segundo apuraram os agentes, as primeiras compras teriam sido feitas ainda em Cachoeirinha, onde Luciana mora. Depois, teria feito outras compras na Capital – a última em uma loja de departamentos no Moinhos Shopping, em Porto Alegre.

Com base nas informações dos comerciantes, os servidores estimam que a defensora tenha comprado pelo menos cem aparelhos nos últimos cinco meses, mas ainda investigam quantos chegaram às mãos dos presidiários.

Também tentam mapear o funcionamento do suposto esquema. Habituados com a figura dos advogados, os agentes só lembram de ter visto Luciana circular pela prisão de Montenegro nos últimos meses. A Susepe e a Polícia Civil apuram a hipótese de que a defensora também teria agido em outras cadeias.

Na busca para esclarecer o caso, eles contam com informações colhidas na terça-feira, quando a advogada solicitou atendimento para cinco presos. Condenados por tráfico e por assalto, eles eram os clientes que ela atendia em Montenegro, a exemplo de um namorado, que cumpre pena no local por supostamente ferir um em assalto.

A Susepe busca descobrir a participação desses detentos no caso. Uma das hipóteses é que eles eram apenas usados para que os celulares entrassem no módulo e chegassem às mãos de outros presos. Para o serviço de inteligência do órgão, o elo seria o namorado.

Na delegacia, Luciana evitou fazer manifestação formal aos policiais. Ela terá uma audiência na Justiça na próxima semana para responder sobre o caso. Ontem, Zero Hora voltou a procurar a advogada pelo celular, mas não obteve sucesso. A reportagem também visitou o endereço do escritório de advocacia dela, repassado pela Susepe. No local, no bairro Moinhos de Vento, porém, funciona um consultório dentário, segundo o porteiro.

leticia.barbieri@zerohora.com.br

O presídio

- Com duas vezes sua capacidade, a penitenciária de Montenegro abriga presos perigosos da Região Metropolitana

- Mais da metade dos 920 presos homens vem do Vale do Sinos, entre eles, integrantes de quadrilhas de roubo de veículo e tráfico de drogas que continuam agindo na região

- Lá estão recolhidos bandidos do segundo escalão de grandes bandos, que têm seus líderes recolhidos na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc)

- Entre as 185 mulheres, a maioria recolhida por tráfico de entorpecentes, estão mulheres apontadas como líderes de quadrilhas que dominam a distribuição de drogas em galerias femininas, como as do Penitenciária Madre Pelletier

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