sábado, 19 de março de 2011



19 de março de 2011 | N° 16644
NILSON SOUZA


Grizotti e o gordinho

Utilizando o seu próprio pardal (uma câmera oculta), o repórter Giovani Grizotti flagrou tenebrosas transações entre representantes de empresas fornecedoras de controladores de trânsito para prefeituras e servidores públicos que desservem ao país. O escândalo, potencializado pelo Fantástico, está provocando o afastamento de funcionários suspeitos, a suspensão de licitações e a mobilização das autoridades.

Um dos vídeos que fez mais sucesso esta semana no mundo virtual mostra um estudante gordinho sendo provocado e agredido por um menino menor, estimulado pela sua turminha, num evidente caso de bullying. Em determinado momento, porém, o garoto pacífico reage, ergue o agressor nos braços e o lança com violência no chão, acabando abruptamente com a provocação.

Esses episódios, diferentes e distantes, têm muitos pontos em comum. Nos dois casos, os observadores aplaudem os protagonistas travestidos de justiceiros, porque o público está cansado de ser ludibriado e de conviver com a impunidade. Grizotti, numa legítima ação jornalística, fez o que os órgãos públicos encarregados de proteger a sociedade raramente fazem: investigar, denunciar os abusos, identificar fraudes, expor corruptores e corruptos, e puni-los na forma da lei.

O estudante com sobrepeso redimiu os oprimidos, usando a própria força para se livrar da opressão. Talvez tenha exagerado, pois o outro menino deve ter dado trabalho para o posto médico depois da contenda, mas como não considerar legítima defesa a reação de alguém que está quieto e passa a ser agredido gratuitamente?

É compreensível, portanto, que as pessoas decentes se sintam representadas por quem age e reage na busca de justiça. As imagens dos dois episódios não deixam dúvidas e invariavelmente arrancam dos espectadores o mesmo pensamento:

– Bem feito!

Este é outro ponto comum: hoje tem as imagens para tudo. O tsunami não ocorre mais apenas do outro lado do mundo, passa ao vivo na nossa sala. O deputado que pega dinheiro ilícito o faz diante dos nossos olhos. O propineiro sugere os 10% de sacanagem na nossa cara. Todas as maldades do mundo estão gravadas para quem quiser ver, a qualquer hora e em qualquer lugar.

E como este filme de horrores passa a todo momento na tevê e na tela do computador, fica difícil de conter a indignação. Pena que tanta safadeza documentada nem sempre resulta na devida punição. Mesmo para os pacíficos, como este escriba sabático, às vezes dá vontade de incorporar o espírito do gordinho.

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