sexta-feira, 11 de março de 2011


Jaime Cimenti

Não há progresso no amor

No longo e profundo ensaio histórico e filosófico O Paradoxo Amoros, do premiadíssimo romancista e ensaísta francês Pascal Bruckner, a questão central é a visão sobre as metamorfoses da experiência amorosa, especialmente a partir do século XVIII, quando os humanos começaram a revolucionar em termos de amor e a poder escolher seus parceiros.

Claro que a liberdade de escolha amorosa impôs um preço. Como o amor, que une, pode conviver com a liberdade, que separa?

É exatamente o dilema do casal contemporâneo, que venera ao mesmo tempo a paixão e a independência, que envolve seres que, ao mesmo tempo, querem realização afetiva, liberdade e prazer sexual. O novo ensaio do autor de A euforia perpétua (Difel 2002) relata, por meio das mudanças do casamento e do erotismo, a resistência do sentimento a todos os enquadramentos.

Depois desses milênios todos, parece que não encontramos soluções para os milenares sofrimentos do amor. Parece que o que fizemos foi multiplicar seus paradoxos e que, ao fim e ao cabo, houve progresso na condição dos homens e das mulheres e que não houve progresso no amor.

Mas, calma, isso deve ser visto como a boa notícia do terceiro milênio que começou. Na apresentação da obra, Regina Navarro Lins refere que Pascal pensa as múltiplas questões em torno do desejo, da paixão, da apropriação pelo mercado, do custo da fidelidade, do preço do adultério e de que forma esses conceitos são mutantes.

Regina diz que o trabalho de Pascal é de radical importância para avaliarmos o presente e o futuro das relações amorosas num momento em que os antigos valores cada vez dão menos conta das exigências humanas. É por aí mesmo.

Com linguagem clara, elegante e de vários matizes, Pascal Bruckner mostra que, se o amor legitimou o casamento a partir do século XIX, de outro lado tornou-se de certa forma seu próprio algoz.

Como o amor e os relacionamentos são o mais importante da vida, o que mais nos realiza ou não, o livro é um convite para refletir e agir sobre essas questões infinitas e para que os casais consigam, ao menos minimamente, conciliar individualidade, prazer, realização pessoal e ir amando ao máximo, em meio a tantos paradoxos da modernidade. Difel, tradução de Rejane Janowitzer, 256 páginas, mdireto@record.com.br.

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