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sábado, 12 de março de 2011
13 de março de 2011 | N° 16638
PAULO SANT’ANA
Apartheid daqui
Em brilhante e veraz artigo publicado sexta-feira passada em Zero Hora, o historiador Clóvis Oliveira concluiu que o carnaval de Porto Alegre deixou de ser um fato social quando foi escondido e confinado ao Porto Seco.
Ele salientou que ao ser afastado das áreas centrais de Porto Alegre o desfile de carnaval tirou desta festa milenar a legitimidade ante o conjunto de população da cidade.
Modéstia à parte, em coluna escrita por mim, que intitulava Casa Grande e Senzala, datada de 21 de setembro de 2005, eu fazia a mesma análise do historiador, relembrando que, quando se cogitou de erguer o sambódromo porto-alegrense nas imediações do Beira-Rio ou do Parque Maurício Sirotsky, sublevaram-se a população do Menino Deus, de parte do Centro e os tradicionalistas, clamando que os desfiles de carnaval deveriam ser levados para os grotões da cidade, onde afinal foi plasmado, para tranquilidade da elite e da mediania.
Dos brancos, para ser mais claro.
No Rio e em São Paulo, os desfiles das Escolas de Samba são realizados em sambódromos enquistados nas zonas centrais da cidade, contagiando assim toda a planície urbana com os cortejos.
Aqui não, aqui a “negrada” tinha de ser enviada para os longes da Capital, a fim de não envergonhar os grupos de linhagem e pecúnia destacados, que se contaminariam da catinga urinária dos negros e pobres carnavalescos, se estes desfilassem em torno do Beira-Rio ou do ex-Parque da Harmonia.
Não sabem os tolos e os segregacionistas que é inseparável do carnaval o grosso urbano, o asfalto, a avenida, que não podem ser descasados o carnaval e o núcleo central da cidade, que esses dois fatores se intercomunicam e o carnaval perde sua legitimidade se não estiver encravado nas ruas de casas ou apartamentos, como na Sapucaí, cujo sambódromo por sinal foi construído por Oscar Niemeyer, que por certo não concordaria em apor seu nome no projeto se lá, como aqui, fosse o carnaval dissociado, por secção, da cidade propriamente dita.
Eu fico triste porque se repete agora o mesmo apartheid que se verificou séculos atrás, quando os brancos segregaram os negros, em Porto Alegre, criando a Colônia Africana, nome dado ao bairro então, onde fica hoje o Bairro Rio Branco, nas franjas das ruas Mostardeiro e Vasco da Gama. Para ali foram mandados em degredo os negros da cidade.
Hoje, os negros e os brancos pobres são alojados no carnaval, em três ou quatro dias de folia, lá no inacessível Porto Seco.
Tudo porque os senhores feudais da cidade, que a abandonam no carnaval e se tocam para o Litoral, quando voltarem das férias, não inalem o fedor remanescente dos pobres, despejado ao redor de suas casas pelos barulhentos e inconvenientes foliões e mijões das sazonais atividades momescas.
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