segunda-feira, 14 de março de 2011



14 de março de 2011 | N° 16639
L. F. VERISSIMO


Antigas namoradas

– Gugu! – exclamou o Plínio.

A mulher pensou: pronto. O Plínio ficou gagá. Só estava esperando se aposentar para ficar gagá. Senilidade instantânea. Não perdeu tempo. O Plínio continuou:

– Que coisa. Como eu fui me esquecer dela?

– Quem?

– A minha primeira namorada. Maria Augusta. Gugu. Nós tínhamos 12 anos. O primeiro beijo na boca. Uma vez combinamos que um ia sonhar com o outro. Seria um sonho só.

– E sonharam?

– Claro que não. Mas mentimos que sim. Depois veio a ... a ... Sulamita!

– Você namorou uma Sulamita?!

– Espera. Preciso fazer uma lista.

Plínio saiu atrás de papel e caneta. Pronto, pensou a mulher. O Plínio encontrou uma ocupação.

– Vamos ver. Sulamita. Primeiro beijo de língua. Primeira mão no peito. Mas só por fora. Ela não queria fazer mais nada. Meu Deus, as negociações! As intermináveis negociações. Deixa. Não deixo. Pega aqui. Eu não. Só um pouquinho.

Não. Sexo, sexo mesmo, ou uma simulação razoável, foi só com a seguinte, que se chamava... Não. Antes do sexo teve um anjo. A Liselote. Loira, magra, alta. Pele de alabastro. O que é mesmo alabastro?

– Não sei, acho que é uma espécie de...

– Não importa. A pele da Liselote era de alabastro. Namoramos durante anos. Um dia fizemos um pacto suicida, mas eu levei tanto tempo para escrever o bilhete que ela achou que era má vontade e o namoro acabou. Depois da Liselote, então, veio o sexo animal! Com a, a ... Como era o nome dela? Marina. Não, Regina. Cristina. Isso, Cristina. Ficamos noivos. Um um dia ela me viu descascando uma laranja e teve uma crise.

Por alguma razão, o meu jeito de descascar uma laranja desencadeou uma crise. Ela disse que não podia se imaginar casada comigo, com alguém que descascava laranja daquele jeito. Mandaram ela para a Europa, para ver se ela se recuperava.

Nem sei se foi laranja. Alguma coisa que eu fazia. Depois dela, deixa ver... Mercedes. A boliviana. Baixinha. Grandes seios. Vivia cantarolando. Não parava de cantarolar. Um dia eu reclamei e ela atirou um vaso na minha cabeça. Depois, depois...

– Não teve uma Isis?

– Isis! Claro. Eu falei da Isis pra você? Era corretora de imóveis. Bem mais velha do que eu. Foi quem me ajudou a escolher o escritório. Não chegou a ser namoro. Fizemos sexo de pé em várias salas vazias da cidade, e ela nunca chegou a tirar o vestido. Grande Isis... Olha aí, até que não foram muitas. Gugu, Sulamita, Liselote, Cristina, Mercedes a boliviana... Ah, teve uma, eu já contei? Uma que miava quando a gente estava na cama. Miava! Me chamava de “Meu gatão”, toda melosa, e miava. Já pensou, o ridículo? Como era o nome dela?

– Era eu, Plínio.

– O quê? Não. O que é isso?

– Era eu.

– Não era não. Que absurdo. Nós, inclusive, não transamos antes de casar.

– Transamos, namoramos, e eu miava porque você pedia.

– Era outra pessoa.

– Era eu, Plínio. Bota o meu nome na sua lista.

– Não. Nem sei por que eu comecei esta bobagem...

– E quer saber de uma coisa? Não é o seu modo de descascar laranja, Plínio. É o seu modo de chupar laranja. A Cristina tinha razão. Não sei como eu aguentei todos estes anos. A Cristina tinha razão!

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