sábado, 26 de março de 2011



27 de março de 2011 | N° 16652
PAULO SANT’ANA


Estou de volta, por enquanto

A situação é a seguinte neste meu retorno à coluna: fui alvo de uma cirurgia na quarta-feira última. O cirurgião Nédio Steffen retirou da minha região rinofaríngea um tumor maligno, um carcinoma.

Foi auxiliado no procedimento pelo anestesista Egídio Portella e pelo patologista Geraldo Geyer.

Suponho agora, ainda atordoado pela notícia, de que vou fazer tratamento radioterápico ou quimioterápico.

Tantos tumores em minha cabeça, dois nos ouvidos, dois nas parótidas, ainda sobreviventes, o da faringe haveria de ser câncer, os outros quatro são benignos.

Mas me resta ainda uma forte esperança.

Conheço seis homens que se casaram, é incrível, duas vezes com a mesma mulher. De papel passado, casaram-se a primeira vez, separaram-se e voltaram a casar com a mesma mulher

Um desses seis heróis é o meu querido oftalmologista Joaquim Xavier.

Já eu confesso que não me casaria nem pela primeira vez com a mesma mulher.

Sinto que os médicos clínicos têm um certo ciúme, uma determinada inveja dos médicos-cirurgiões.

E para agravar ainda mais esta natural rivalidade, os cirurgiões ainda clinicam.

E os clínicos não operam.

Entenderam-me?

Antes de 1980, com uma estagnação da indústria farmacêutica, a maioria dos analistas e psiquiatras usava da conversa, isto é, da psicoterapia para tratar de seus clientes.

Após 1980, com um espantoso avanço da indústria farmacêutica, a maioria dos psiquiatras e analistas passou a receitar abundantes remédios para seus doentes emocionais.

Ou seja, antes de 1980, os analistas e psiquiatras tentavam com conversa resolver o problema de seus clientes.

Agora, com toneladas de remédios receitados aos clientes, os analistas e psiquiatras tentam resolver o problema deles próprios (dos analistas e psiquiatras).


Voltando à minha anatomia tumorosa, são cinco os tumores existentes em minha cabeça, afora os que operei no passado.

Felizmente, nenhum desses tumores atingiu meu cérebro, o que me permite escrever esta coluna, por exemplo.

E também nenhum desses males atingiu meu coração, pelo que posso continuar sendo bondoso e apaixonado.

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