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quarta-feira, 16 de março de 2011
16 de março de 2011 | N° 16641
DAVID COIMBRA
Homens irresponsáveis, mulheres sem imaginação
Você pode ser um pouco irresponsável de vez em quando. Pode ser um pouco incoerente, um pouco vadio. Seja condescendente com você mesmo. Perdoe-se. Não se leve tão a sério. Lembre-se: a levedura que fermenta a imaginação é a irresponsabilidade. Quem vive com os pés fincados no mundo real, quem cumpre suas obrigações, quem é sério e faz com que a sociedade funcione não tem tempo para sonhar. Nunca será ridículo, verdade, mas nunca será genial. A criatividade, a imaginação, a genialidade são coisas de irresponsáveis.
Esse é o defeito dos homens. Essa é a virtude das mulheres.
Não existe um Dostoievski mulher – as boas escritoras não fabulam, elas escrevem sobre suas experiências. Não existe um Mozart mulher – as grandes mulheres da música são intérpretes. Mas também nunca existiu um Hitler, um Mao, um Stalin mulher.
As administradoras são ponderadas. Uma Margareth Tatcher até pode fazer a guerra, se a guerra for um imperativo político, como foi a Guerra das Malvinas. Agora, ela dificilmente provocará a guerra. Alexandre, Júlio César e Napoleão queriam dominar o mundo pela força. Imagino Roxana, Pompeia e Josefina ao lado deles, se perguntando em silêncio: “Dominar o mundo PARA QUÊ?”
Uma mulher, você sabe, é mãe. Mesmo que não tenha filhos, é mãe. Conheço mães perfeitas sem filhos. Uma mãe, obviamente, não pode ser irresponsável. Ela tem uma cria para proteger e alimentar. Então, a mulher é prática e racional. A mulher é responsável.
Claro: a sensatez das mulheres não garante que elas serão boas administradoras, assim como a irresponsabilidade dos homens não garante que eles serão criativos. Trata-se apenas de uma tendência biológica. Hormônios, você entende? O mundo é comandado pelos hormônios.
Vá aos presídios. Os violentos, os assassinos, os cruéis são homens. Mulheres não matam, nem são assassinadas. Ainda há pouco o Ibope provou isso em números. Homens e mulheres nascem na mesma proporção, no Rio Grande do Sul. Mas há muito mais mulheres. Só em Porto Alegre, cem mil a mais. Por quê?
Porque os homens morrem jovens, vitimados pela violência. Que tristeza: os inquietos hormônios masculinos gaúchos não produzem um Beethoven, um Balzac, um Bach, um Freud; produzem só assassinos.
A maternidade está do lado das mulheres. Os hormônios estão contra nós.
Nós fazemos muita bobagem, temos de admitir. Mas às vezes dá certo. Numa dessas, explode alguma grande criação. Porque o criativo brinca. O criativo tem de ser um pouco criança. Uma mulher, com 12 anos, já é adulta. Um homem adulto continua para sempre com 12 anos. Se o lado criança do homem adulto não for desenvolvido, ele não será criativo.
Um Romário, um Renato Portaluppi, um Ronaldo Nazário, um Garrincha, o que eles eram? Gênios irresponsáveis. O atacante tem de ser movido por um pouco de irresponsabilidade. O zagueiro, não.
O zagueiro é feminino. Como uma mulher, ele cuida da casa e da prole, que é a grande área e o gol. Se o zagueiro tiver muita imaginação, o time está em perigo. Se as mulheres se tornarem muito inventivas, a Civilização desandará. As mulheres são a estrutura de aço que mantém de pé a Civilização. Elas é que controlam a nossa irresponsabilidade.
Mas alguma irresponsabilidade é preciso. Qual é o problema do Leandro Damião provocar o Grêmio na comemoração de um gol?
Nenhum. Foi uma pequena irresponsabilidade. Mais um indício de que Leandro Damião será um grande centroavante.
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