segunda-feira, 28 de março de 2011


Manoel Antônio Vargas Filho*

28 de março de 2011 | N° 16653
ARTIGOS


O custo de não fazer

No dia 18 de fevereiro fez um ano que voltei a morar em Porto Alegre. Nos 25 anos anteriores, morei e formei família na acolhedora Itaqui, município mais distante da Capital, situado na Fronteira Oeste do nosso Estado, um pouco abaixo da linha imaginária que divide a metade norte rica da pobre metade sul. Resolvi deixar o campo antes que o campo me deixasse. Tive a escolha, muitos não a tem.

Em 1985, após me formar em agronomia, fui cultivar arroz nas terras que eram de meu pai. O município contava, então, com mais de 600 produtores de arroz que, através de seus funcionários, do comércio e dos prestadores de serviço, irrigavam a economia da região promovendo o desenvolvimento das cidades.

Hoje, são pouco mais de 100 produtores que, ano após ano, vêm incrementando a produtividade de suas lavouras e, apesar disso, vendo sua margem de lucro desaparecer. Aliás, o aumento de produtividade é, ao mesmo tempo, a única arma de que o produtor dispõe para sobreviver e a pá com que cava sua cova, pois maior produção significa menor preço.

Há anos que os orizicultores alertam para concorrência desleal com os países do Mercosul. Bloqueamos pontes, estradas, balsas e até ferrovias na intenção de chamar atenção para o problema. Nunca quisemos acabar com o Mercosul, mas não queremos que ele acabe conosco.

Passamos, com alguns mortos e outros tantos gravemente feridos, por todos os planos econômicos, mas não sobreviveremos muito tempo a essa concorrência predatória. A culpa é das nossas autoridades.

O custo do não fazer será pago por toda a sociedade ali na frente. O mesmo custo do não fazer na educação das crianças e dos jovens pelo que já estamos pagando. O emprego que sobra na Região Metropolitana, por exemplo, falta na maioria das cidades da metade sul. A consequência disso todos sabemos qual é.

A metade pobre do RS é rica em água e terras férteis. Sol não lhe falta, assim como gente com competência e vontade. Não queremos mais depender de verbas emergenciais nem desejamos que o governo seja armazenador de arroz.

Necessitamos a intervenção do poder público para corrigir as assimetrias do bloco Mercosul e para capitanear um melhor aproveitamento das nossas potencialidades de água, solo e clima. Eu afirmo que, com vontade política, pode-se transformar a triste realidade dos municípios da metade sul.

Fiquei animado com a declaração da nossa presidenta de que o arrozeiro não pode ser penalizado pela sua eficiência. Assim como me entusiasmei com a iniciativa do nosso governador de colocar na pauta do Mercosul a necessidade de exportar em bloco. A leitura está correta, agora é hora de agir.
* Ex-produtor rural, estudante de Direito

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