quarta-feira, 23 de março de 2011


FERNANDO RODRIGUES

O tempo voa

BRASÍLIA - Dilma Rousseff igualou o recorde de popularidade de Lula em um terceiro mês de mandato. É um momento muito especial, mas tem prazo de validade.

O ciclo político no Brasil tem algumas idiossincrasias. Embora o mandato seja de quatro anos, só em parte do primeiro ano (até agosto) o presidente desfruta de uma força quase total. Pode adotar medidas arrojadas e polêmicas.

É fácil entender a razão. Quando setembro chegar, começam todas as articulações políticas visando a eleição dos quase 5.600 prefeitos em 2012. O prazo legal para estar em um partido é de 12 meses antes da disputa. Deputados e senadores sabem que o prefeito eleito em 2012 será o cabo eleitoral de 2014. Todos então se engajam no processo.

Em 2012, há a eleição propriamente. Em 2013, o primeiro semestre servirá para curar as feridas abertas no ano anterior. Bastará a poeira abaixar e só vai se falar da sucessão presidencial de 2014.

Dilma e seus assessores conhecem esse ciclo. Se quiser aprovar alguma reforma relevante para o país, a presidente terá de aproveitar o atual embalo. Nada a impede de esperar pelo segundo semestre -exceto o risco de ficar sem tempo suficiente dentro do Congresso.

Há sinais no Planalto de que o plano de erradicação da miséria sai até maio. De outras ações, não se sabe. Numa entrevista a Claudia Safatle, do "Valor", Dilma foi indagada sobre algo essencial para o Brasil, a regulamentação dos fundos de previdência para servidores públicos. Sua resposta: "Não estamos ainda discutindo isso".

Dezenas de milhares de funcionários públicos são admitidos todos os anos. Colocam o pé na função e já são donos do "direito adquirido": aposentadoria com o salário integral.

Dilma pode consertar essa e outras iniquidades na organização do Estado. Agora, sua popularidade serve de lastro. Mas o tempo está passando. Voando. Quando agosto chegar, tudo ficará mais difícil.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br

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