sexta-feira, 11 de março de 2011


Jaime Cimienti

Dois amores, duas religiões e a liberdade de um povo

A mão de Fátima, romance histórico do advogado e escritor espanhol Ildefonso Falcones, confirma as qualidades que o autor demonstrou com seu romance histórico de estreia, A catedral do mar, sucesso mundial sem precedentes, editado em mais de 40 países.

Em A mão de Fátima, construção fidedigna da História, mesclada com narrativa hábil e sedutora, envolvendo histórias apaixonantes de amor e ódio, está uma trama que não perde o ritmo e prende o leitor do início ao fim.

As coisas se passam no ano de 1568, na região das Alpujarras, na Andaluzia, então parte do reino de Granada. Lá ocorreu um dos mais sangrentos combates do século XVI. Naquele ano os mouriscos, descendentes dos turcos-otomanos, que conquistaram a península ibérica antes, declaram guerra à coroa após o édito real proibindo o uso da língua árabe e dos costumes e cultos muçulmanos na região.

O jovem Hernando, filho de uma muçulmana violentada por um padre católico, colhido no turbilhão da revolta, é visto com desconfiança pelos dois lados confrontantes. Ele é forçado a amadurecer e tomar partido rapidamente para sobreviver, enfrentando massacres, constantes mudanças de poder e a luta para manter sua cultura, de modo clandestino.

O protagonista conhece a violência e a crueldade dos dois lados. Hernando vê sua família ser dilacerada pela guerra. Mas essa mesma guerra é uma oportunidade que tem para crescer na estima de seu próprio povo e para conseguir o amor de Fátima, uma jovem viúva a quem salva da morte.

No livro anterior, Falcones tratou basicamente de Barcelona. Neste romance há dois importantes cenários: as montanhas escarpadas de Alpujarra e Córdoba, a cidade do Califa, com sua mesquita, antigo bairro árabe, suas ruas e seu povo, ambos no sul da Espanha. A igreja foi o símbolo do primeiro romance de Falcones e, neste segundo, a mesquita e a luta do povo por liberdade servem de contraponto para a jornada pessoal do protagonista.

O autor lançou mão de um conflito que dividiu a Espanha e precipitou a expulsão dos mouriscos do país, anos mais tarde, em 1609, a partir de um ponto de vista original: o de um homem apaixonado que nunca se conformou com a derrota. Editora Rocco, 768 páginas, tradução de Carlos Nougué, R$ 69,50, www.rocco.com.br.

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