Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quarta-feira, 9 de março de 2011
09 de março de 2011 | N° 16634
PAULO SANT’ANA | ROSANE TREMEA (interina)
Conselho bom a gente segue
Dona Rosa, quando despachava um de seus seis filhos para a estrada ou para as férias, dava dois conselhos à porta de casa, quando a bagagem já estava acomodada no porta-malas e só faltava o último beijo.
O primeiro: – Devagar na estrada.
O segundo, caso o destino fosse o litoral: – Cuidado: mar não tem galho.
E, ao concluir sua prédica, não queria dizer que rios fossem menos traiçoeiros. Queria dizer que não haveria nenhum recurso aos afoitos.
Dona Rosa viajava muito raramente, só para visitar a família. Para a praia, então, nem se fala. Conheceu o mar aos 70 anos, um ano apenas antes de morrer.
Mesmo assim, ficava atenta a todos os perigos. Ouvinte de rádio, telespectadora fiel, ficava de cabelos em pé ao ouvir a notícia de um afogamento, o relato de um acidente. E se preocupava de forma particular com os filhos, quase todos morando longe, num vaivém incessante.
As duas recomendações aparecem em luminosos de néon na minha cabeça nesta época do ano. Dá quase um alívio, e até entendo o alívio de dona Rosa, quando chega março. Equivale a todos os filhos em casa, a porta trancada à chave, os males da humanidade todos lá fora, e os rebentos a salvo.
O triste é que, acabada a temporada de veraneio, a contabilidade de mortos por acidente ou afogamento – os dois perigos mais temidos por dona Rosa – é assustadora. Seria trágica se só uma vida se perdesse.
O que dizer dos nove afogamentos no nosso litoral (sem contar os tantos havidos em açudes, rios, piscinas etc)? E dos mais de 230 mortos nas estradas gaúchas entre janeiro e o início de março (sem contar as 27 vidas perdidas tragicamente no oeste catarinense)? Da insanidade de motoristas fazendo voar ciclistas pelas ruas de Porto Alegre, então, nem se fale. E não se se veem indícios de que vá diminuir.
De plantão na Redação ao longo deste Carnaval, vi tragédias tirarem, para mim, o brilho de escolas de samba e de celebridades que saracoteiam por camarotes. Fã de Carnaval, costumo passar madrugadas insones vendo desfiles pela TV. Desta vez, faltou-me ânimo. Vi os compactos.
A tristeza das 80 famílias de Linha Salto, de onde saíram quase todos os 27 que retornaram mortos de Santa Catarina, suplantou minha curiosidade pela festa. Nem Jude Law, nem Gisele Bündchen, nem as cabeças da comissão de frente da Unidos da Tijuca. E a chegada de março não parece que arrefecerá essas mazelas.
Das minhas leituras do final de semana de trabalho, a que mais me chamou a atenção foi a entrevista do antropólogo Roberto DaMatta a respeito do comportamento do motorista brasileiro, cujo mote era o atropelamento coletivo na Cidade Baixa. Disse DaMatta ao colega Itamar Melo:
– O trânsito no Brasil é uma multidão de surtados. Ele permite que a gente enxergue com clareza que os brasileiros sentem mal-estar diante da igualdade. Não é diante da desigualdade que temos mal-estar.
É essa falta de consciência da “existência” do outro e de seus direitos, iguais aos nossos, que permeia tantos e tantos comportamentos, não só no trânsito. Que as pessoas olhem para seus umbigos e os achem os melhores já produzidos em big brothers, orkuts, facebooks, twitters, até dá para aceitar.
Mas o que é inaceitável é que reproduzam no dia a dia, no trânsito ou em outras situações, a ideia de que são seres superiores – nadam melhor, correm mais, são imunes aos perigos e podem dispensar as leis. Todas as leis.
Fico imaginando quais recomendações dona Rosa daria hoje aos seis filhos. Provavelmente os mesmos, porque trazem embutidos noções de civilidade, de convívio, prudência, paciência, respeito à vida, própria e dos outros. Todos os outros.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário