quarta-feira, 23 de março de 2011



23 de março de 2011 | N° 16648
MARTHA MEDEIROS


A vitória da discrição

Dilma Rousseff, mesmo com apenas três meses de governo, já fez um bem enorme ao país: resgatou o valor da sobriedade. Lógico que os seus 47% de aprovação junto aos brasileiros, segundo pesquisa Datafolha, não se devem à etiqueta. É resíduo da popularidade do seu antecessor, combinado ao fato de ela não ter feito nenhuma grande besteira até aqui. Mas o acerto em se comportar com classe já merece ser saudado.

Não se está discutindo os méritos ou deméritos políticos de quem quer que seja, apenas saliento algo que vem me chamando a atenção. Tenho viajado por diversos lugares do país e só ouço comentários positivos sobre o estilo discreto da presidente. Parece que finalmente cansamos de tanto exibicionismo – em Brasília ou em qualquer lugar.

Lula fazia o estilo showman e não escondia sua atração pelos holofotes. Era mais bonachão, mais espalhafatoso, assim como o Brasil também é. Nenhum problema nisso, desde que se faça o dever de casa, porém muita gente não consegue distinguir a diferença entre ser popular e ser inconveniente, e é por isso que um governante deve cuidar dos exemplos que dá.

Não somos nórdicos, não somos gélidos, não somos contidos. Ótimo. Mas, em contrapartida, também não somos muito educados. Temos o péssimo hábito de forçar intimidade com quem mal conhecemos e acreditamos que simpatia substitui elegância. Não substitui.

Há momentos (raros) em que se pode ser um pouco folgado, dependendo do ambiente em que se está, e outros (vários) que requerem uma postura sem excessos. Vale o bom uso do humor, mas nunca a extravagância.

O Brasil sempre foi um país alegre, irreverente, alto-astral, e só temos a nos orgulhar disso. Mas, de uns tempos para cá, a vulgaridade se expandiu e a superexposição tornou-se obrigatória. A privacidade deixou de ser um bem valioso: passamos a viver aos gritos, fazendo poses, citando frases bombásticas.

Excedemos no tom, e barulho demais cansa. Dilma Rousseff é uma presidente que só fala o necessário, só aparece se for fundamental e, quando está invisível e inaudível, trabalha. Uma novidade mais que bem-vinda numa época em que o silêncio produtivo anda perdendo posições para um inútil blá-blá-blá.

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