domingo, 27 de março de 2011


DANUZA LEÃO

Tão bela e tão brega

Seus penteados e suas roupas eram o suprassumo da breguice de Hollywood, cidade campeã no quesito

ELIZABETH TAYLOR foi a mulher mais bonita do cinema; existiram outras, também deslumbrantes, mas que não tiveram seu brilho de estrela. Até tiveram, mas por um tempo curto. Ava Gardner, Garbo, Kim Novak e outras beldades, aos primeiros sinais de envelhecimento, se trancaram em casa -em muitos casos bebendo- para não serem mais vistas, mas não ela.

Elizabeth, depois dos sets de filmagem, continuou no palco da vida, e nunca desistiu de ser feliz; foram oito casamentos, um recorde.

Uma de suas declarações: "nunca dormi com homem algum, a não ser com meus maridos; que mulher pode dizer a mesma coisa?"

Se disse a verdade, nunca vamos saber, mas é bem possível. No fundo, ela era conservadora -à sua maneira.

A beleza de Elizabeth não se limitava aos olhos: tinha um nariz perfeito e seus traços eram de uma harmonia de tirar o fôlego.

Um rosto tão bonito fazia esquecer sua baixa estatura, os seios grandes demais para seu tamanho -e sempre foi gordinha.

Tendo passado a vida inteira em estúdios de filmagem, sempre como grande estrela, ela nunca soube o que era a vida normal. Achava que tinha direito a tudo, como uma menina mimada.

Uma vez uma fã chegou perto dela e disse as coisas convencionais, tipo "você é linda, te adoro" etc. Essa mulher tinha na lapela um broche com um magnífico diamante; Liz olhou e disse, candidamente: "quer me dar de presente?"

Para ela, isso seria normal. Detalhe: a mulher não deu.

De outra vez, estava no baile Proust, no fabuloso castelo Ferrières, dos Rothschild, e quando a anfitriã, Marie Helène, se queixou da despesa para manter a imensa casa, ela perguntou: "por que você não dá para mim? Eu e Richard (Burton) poderíamos cuidar dela". A realidade, para Elizabeth, não existia, ou melhor, ela não conhecia.

Muito álcool, muitas drogas, muitas plásticas, muito botox. Em sua última imagem, a deslumbrante atriz estava quase irreconhecível; seu rosto estava deformado, inchado, uma desolação. Mesmo assim, nunca se escondeu dos fotógrafos nem deixou o palco, não mais do cinema, mas dos acontecimentos.

E era uma boa amiga: quando Peter Lawford foi internado na clínica Betty Ford por seus excessos, ela se internou também, para dar uma força, e seu copeiro ia todos os dias servir a refeição predileta de seu amigo. Elizabeth passou a vida rodeada por gays, e não ouvi falar que tenha tido nenhuma amiga mulher, a não ser Debbie Reynolds, de quem roubou o marido sem a menor cerimônia.

Ela era tão bonita que ninguém nunca notou o quanto era cafona.

À medida que o tempo foi passando, seus penteados e suas roupas eram o suprassumo da breguice de Hollywood, cidade campeã no quesito. Mas sua beleza era tão grande que ela podia se dar ao luxo de se vestir absurdamente mal.

Dependendo dos papéis que representava, quanto mais despojada, mais natural e mais simples, mais deslumbrante era.

E corajosa: tinha uma saúde frágil, e depois de uma cirurgia na qual foi submetida a uma traqueostomia, saiu do hospital direto para uma festa, com um colar que era um fio de platina e um grande diamante cobrindo a cicatriz do pescoço. E passou a noite dizendo, sorrindo: "é uma espécie de band-aid que eu inventei".

Foi a última estrela de uma época que com sua morte acabou para sempre.

danuza.leao@uol.com.br

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