Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quinta-feira, 10 de março de 2011
10 de março de 2011 | N° 16635
PAULO SANT’ANA | CARLOS ANDRÉ MOREIRA (interino)
O pátio do colégio
Na minha época de colégio não existia “bullying”. Não a prática, obviamente, essa é claro que havia, uma vez que um dos maiores passatempos de crianças e adolescentes em grupo sempre foi o exercício da crueldade. Havia “perseguição”, “te pego lá fora”, “dar um pau” e outras variantes para o termo que hoje, em sua forma inglesa original, parece destinado a ser incorporado de vez no vocabulário e nas preocupações dos pais.
Outra diferença para a minha época de colégio, quando o bullying que não se chamava bullying era horrível para a vítima, mas dos pais aos professores ninguém parecia dar muita bola.
Podem me interromper se acharem que devem, mas é que este Carnaval me proporcionou um estalo, e eu queria começar a explicá-lo falando do bullying, essa prática de importunar, ameaçar, agredir, intimidar, torturar física ou psicologicamente um colega de classe – outra novidade que não era do meu tempo, soube que hoje em dia tem aluno praticando o bullying contra professor, veja só.
Mas não me entendam mal achando que este texto é sobre as tensões da perseguição escolar, eu já saí da escola há muitos anos e não sou nem professor de linha de frente, para sentir o problema na pele, nem pedagogo, para achar que o entendo. A questão com o bullying é que, embora muitas vezes pareça difícil de coibir, sabe-se o que ele é.
Sabe-se que determinado tipo de comportamento está passando do limite do aceitável quando termina em “cacos de vidro na comida e tachinhas na cadeira”, para lembrar uma música do The Who que já falava nisso em 1969. A violência na escola parece mais deslocada, uma vez que se dá em um local de formação e reflexão, ambos conceitos que deveriam estar distantes de explosões físicas de selvageria.
A pergunta que não deixei de me fazer neste Carnaval (época em que tradicionalmente o mundo ganha autorização para virar do avesso) é por que as pessoas acham que o bullying para quando se sai da escola.
Muitos adultos hoje suspiram por estar livres daquele circo de horrores que é a convivência em sociedade com projetos de seres humanos ainda não adaptados para a vida social. Mas será que essa preocupação deveria ser dirigida só ao bullying da gurizada na escola e não para os comportamentos de surda violência de todo dia?
Talvez aqui você aí se sinta decepcionado pelo rumo que essa prosa está tomando, começou com abusos no colégio, algo que só diz respeito a uma fatia, e agora estendeu tanto o foco que daqui a pouco pode-se estar falando de você. Era necessário isso? Não, não era, mas crônicas não são necessárias. Crônicas como as do titular deste espaço voam além do necessário, buscando justamente o que há por trás do juízo preestabelecido. E é incrível como as relações pessoais hoje são pautadas, subterraneamente, por um espírito muito semelhante ao do bullying, que explode com mais força em episódios cruciais e reveladores.
O próprio fenômeno da temporada, o astro Charlie Sheen, que para a maioria havia sumido em algum lugar entre Wall Street e Top Gang, tornou-se um sucesso de público depois de ameaçar decapitar a esposa e de dirigir uma avassaladora overdose de palavrões ao patrão, que terminou por despedi-lo.
A indiferença ao caso Charlie Sheen é a opção mais sensata, mas é praticamente impossível com a invasiva mídia dedicada a celebridades nesta era digital, toda uma estrutura para que artistas e celebridades (não são a mesma coisa) agonizem em público, fazendo de suas lágrimas a água benta da nova idolatria high-tech.
Já que não dá para ser indiferente, acha-se engraçado que um ator em surto psicótico torne-se catalisador de escândalos, e não deixa de haver uma certa lógica perversa no fato de que a série de sucesso que ele protagonizava era claramente um decalque ficcional da própria imagem a ele associada. Na dúvida sobre o que fazer quando a sitcom se tornou reality show, ri-se.
Faz poucos meses, um rolo envolvendo as idas e vindas na contratação de um superídolo do futebol levou parte da torcida de um conhecido clube da cidade a divulgar em redes sociais informações pessoais de parentes do jogador – que em vez de apelar para a lei bravateou de volta com sua segurança pessoal.
Um motorista acelerou por cima de uma manifestação de ciclistas. Em vez de aproveitar a discussão sobre o que fazer com o transporte desta Capital desumana, muitos motoristas parecem ter se solidarizado com o gesto do fulano – desviando o foco para uma permissão oficial que de modo algum justifica o gesto cego.
Bom que o tempo de colégio passou.
Então por que às vezes parece que estamos placidamente encostados no muro esperando o sinal bater, enquanto rimos da surra que o esquisitão está levando no meio do pátio?
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