quinta-feira, 17 de março de 2011



17 de março de 2011 | N° 16642
PAULO SANT’ANA


A razão dos terremotos

Em termos relativos. a tragédia de São Lourenço foi maior que a do Japão.

Não sei se me explico bem, mas em São Lourenço morreram sete pessoas na inundação.

E digamos que no Japão possam ter morrido 4.000 pessoas.

Sete pessoas em poucos milhares é mais relativamente que os 4.000 mortos do Japão, entre milhões de habitantes na região afetada pelo tsunami e pelo terremoto.

A diferença é que o Japão é um país talhado histórica e geologicamente para terremotos, enquanto a plácida São Lourenço, aquela mesma cidade onde eu pulava carnaval de clube na minha mocidade, quando eu era inspetor de polícia em Tapes, nunca teve qualquer vocação para tragédias naturais.

Leio que não se fizeram mais vítimas no Japão porque as construções dos prédios lá possuem fundações mais profundas nos terrenos, visando justamente a resistir aos terremotos.

Mas me assalta uma dúvida. Depois que acontece um terremoto no Japão, os prédios que resistiram a ele na região atingida não ficaram agora com suas fundações mais frágeis, constituindo-se no momento e no futuro em edifícios temerários?

O meu poeta Augusto dos Anjos fala uma vez em terremoto no seu único livro:

A queda de teu lírico arrabil

De um sentimento português ignoto

Lembra Lisboa, bela como um brinco,

Que no ano trágico de mil

E setecentos e cinquenta e cinco

Foi abalada por um terremoto.

Neste terremoto célebre de que fala meu poeta, segundo cálculos da época, morreram de 30 mil a 60 mil pessoas em Lisboa.

A exemplo do que aconteceu agora no Japão, além do terremoto, Lisboa foi varrida minutos depois por um tsunami.

O abalo e a onda gigantesca provocaram, além dos milhares de mortes, dores e pestes inenarráveis em Lisboa.

Essas tragédias naturais deveriam nos levar a profundas reflexões. Por sinal, li ontem um artigo do filósofo porto-alegrense Marco Aurélio Weissheimer, em que ele aborda um debate instalado à época do Terremoto de Lisboa, mas olhem a altura dos debatedores de então: Voltaire, Rousseau, Kant, Leibniz.

Apesar da estatura desses vultos que se esforçaram para explicar as razões filosóficas que ligam os homens às catástrofes naturais, o assunto, se vê, hoje, ficou envolto em uma penumbra de conteúdo.

O vetor filosofal sobre os terremotos é a dúvida se tem ou não o homem culpa dos desastres naturais.

Está muito em voga dizer que a natureza, quando provoca terremotos e inundações, faz isso porque o homem a fustiga.

No entanto, peguemos o Terremoto de Lisboa como exemplo: ele se deu no século 18, quando não havia aquecimento global, poluição pela quantidade de carros existentes, poluição nos rios e oceanos, nem exploração do petróleo.

Então como é que havia terremotos?

Nenhum comentário: