sábado, 26 de março de 2011



26 de março de 2011 | N° 16651
NILSON SOUZA


Bilhetinhos

Abrahão Lincoln usava bilhetinhos para dar ordens a seus subordinados, com o propósito de driblar a burocracia que já atrapalhava a administração norte-americana no século 19. Churchill e Getúlio Vargas também se valeram desse expediente, que acabou consagrado por Jânio Quadros no breve período em que comandou o país e também nos outros governos que exerceu.

Existe até um livro com centenas de bilhetinhos escritos pelo Homem da Vassoura, muitos deles bem divertidos. Veja-se, por exemplo, este memorando que ele encaminhou para seu secretário de Serviços e Obras quando era prefeito de São Paulo:

Fui almoçar, hoje, no refeitório dos trabalhadores da Limpeza Pública.

Anote bem:

- Porta da cozinha imunda;

- Trabalhadores vestindo andrajos;

- Instalações sanitárias com azulejos e teto imundos;

- Pátio interno sujo;

- Máquinas e motores desativados, que devem ser, pelo menos, vendidos como ferro-velho;

- Lixo por toda a parte, fétido, insuportável;

- Maquinaria precisando de uma demão de pintura;

- Bancos nos sanitários sujos e sujas as paredes;

Mas é sobretudo na alimentação, que tenho algo a dizer:

1. O arroz deve ter sido feito sem gordura e não se serviu como sobremesa nem uma banana;

2. Não gostei da comida e aposto que V.Exa. não gostaria também;

3. Sugiro que uma vez por mês, V.Exa. almoce em um desses refeitórios;

4. Dou 30 dias, prazo improrrogável, para que todas essas falhas graves, sejam corrigidas.

Voltarei a visitar esse e outros refeitórios.

JÂNIO DA SILVA QUADROS, Prefeito

O curioso é que, mesmo com todos os avanços tecnológicos, a história da humanidade continua sendo escrita por bilhetes. George Bush estava numa sala de aula em 11 de setembro 2001 quando um de seus assessores entregou-lhe um bilhete com a informação de que os Estados Unidos estavam sob ataque aéreo.

No mesmo instante, o Secretário de Defesa Donald Rumsfeld, que estava numa reunião no Pentágono com visitantes, recebeu discretamente um bilhetinho semelhante, que dizia: “Um avião impactou no World Trade Center”.

E agora, pelo que se noticiou esta semana, o senhor Barack Obama estava numa reunião com a presidente Dilma Rousseff no momento em que seus assessores militares passaram-lhe o famoso papelzinho com a informação de que ele deveria autorizar o ataque à Líbia.

Na era do Twitter, do iPad, do telefone celular e da internet, os prosaicos bilhetinhos continuam fazendo estragos. Se fosse Jânio – e não Obama – o responsável pela ordem, provavelmente teria justificado o ato com a sua mensagem mais famosa:

– Fi-lo porque qui-lo!

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