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sábado, 19 de março de 2011
19 de março de 2011 | N° 16644
PAULO SANT’ANA
Sentir falta
A um amigo que estava no Exterior, eu disse pelo telefone transcontinental: “Tenho a certeza que o que mais me aflige não é a tua ausência. O que mais me aflige é a incerteza e a dúvida sobre a tua volta.”
Isso sobre a distância da gente com as pessoas queridas é um assunto muito grave.
Pior que a distância que nos separa de uma pessoa amada é saber que ela nunca mais voltará para nós.
Quando a distância é passageira, quando dias ou meses depois a pessoa amada volta, a gente tira de letra.
Mas e quando a pessoa amada não volta mais, que fazer da dor e do vazio que nos consomem?
Não há nenhuma diferença entre uma pessoa que amamos e nunca voltará para nós, apesar de viva, e a pessoa que amávamos, que morreu, e assim nunca mais a veremos.
Não há nenhuma diferença. Uma pessoa que amamos mas nunca mais será nossa é a mesma coisa que se tivesse morrido.
Quando eu amo uma pessoa, peço a Deus que faça com que eu morra antes dela. Ela morrer antes de mim me causará uma dor inenarrável.
Não há maior dor espiritual do que assistir a um enterro de uma pessoa que se ama.
Eu às vezes desconfio que esta história de que a finitude da vida foi a coisa mais bem feita pela natureza é uma balela.
Sei muito bem que, se a vida não tivesse fim, se fôssemos imortais, a vida perderia um encanto essencial.
Mas acontece que é tanto terrível assistir-se à morte de uma pessoa amada quanto saber-se que é concreta a hipótese de que morramos e deixemos sobrevivendo nesse mundo a pessoa que nós amamos.
Duas pessoas que se amam deviam, para a vida ser perfeita, morrer no mesmo instante, dentro de um avião em queda livre ou soterradas por um terremoto. Mas no mesmo momento.
Porque não há nada mais trágico, desastroso e dolorido do que sobreviver à morte de uma pessoa amada.
Quando pararem todos os relógios da minha vida e a voz dos necrológios gritar nos noticiários que eu morri, não quero deixar neste mundo nenhuma pessoa que me ame: quero livrá-la deste gigantesco sofrimento.
Não há nada mais triste nem caótico que sentir falta de alguém. É tão triste sentir falta de alguém que morreu quanto sentir falta de alguém que está vivo. Nem sei qual a mais lamentável falta.
Deus permita que em todo o pequeno resto de vida que me sobrou eu não sinta falta de ninguém.
E que ninguém venha a sentir falta grave e profunda de mim.
Vou passar alguns dias sem escrever esta coluna por motivo de tratamento de saúde.
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