sábado, 12 de março de 2011



12 de março de 2011 | N° 16637
PAULO SANT’ANA


Esbanja, Brasil!

Estou voltando para esta coluna depois de uma semana de férias médicas.

Não está nada bem minha situação, mas está tudo sob controle.

Volto para meu lugar, onde sempre cumpro o dever de divertir os leitores ou de bradar contra as injustiças.

Quando escrevi há meses que era radicalmente contra a realização da Copa do Mundo no Brasil, eu não estava sendo irresponsável.

Como vou provar hoje, eu estava sendo um profeta.

Segundo uma meteorologista que fala na Rádio Gaúcha, se os órgãos governamentais tivessem um equipamento meteorológico que custa apenas R$ 300 mil, a tragédia de São Lourenço poderia ser prevista com 12 horas de antecedência.

Segundo reportagem de Zero Hora de ontem, se os órgãos governamentais tivessem equipamentos meteorológicos que custam R$ 2 milhões e 300 mil, a tragédia de São Lourenço seria detectada horas antes por tais equipamentos. E as pessoas e as coisas poderiam ter sido acauteladas contra a tragédia.

Eu vivo em que terra? Vivo onde não têm os governos verdadeiras quantias ridiculamente pequenas para prever tragédias meteorológicas, enquanto os mesmos governos, com o apoio de seus legislativos, despendem fortunas colossais de centenas de bilhões de reais para realizar uma Copa do Mundo no Brasil em 2014.

Com migalhas orçamentárias poderíamos ter evitado a morte de oito pessoas no mínimo em São Lourenço, além da dizimação de rebanhos inteiros pelas inundações.

Com os bilhões que serão gastos nas obras públicas da nossa Copa do Mundo poderíamos acabar com o drama terrível das emergências dos nossos hospitais, poderíamos acabar com a fila funérea e funesta das cirurgias e das consultas do SUS.

Mas preferimos, como governo e povo, assistir a que continuem a morrer milhares de pessoas nas filas dos hospitais e das cirurgias, destinando verbas sagradas que deveriam ser destinadas à Saúde para a Copa do Mundo luxuosa e inconsequente dos nossos devaneios ludopédicos.

Não ter dinheiro para salvar vidas que clamam por socorro no SUS e outras vidas que poderiam ser salvas se tivéssemos equipamentos meteorológicos que previssem catástrofes naturais – e esbanjar fortunas para realizar uma Copa do Mundo que dura menos de 30 dias – é uma das maiores monstruosidades sociais que sustentamos.

Então, este colunista que lhes escreve, quando teve a audácia de ser contra a realização da Copa de 2014 no Brasil, contrariando toda a inteligência do sistema, não estava sendo irresponsável, leviano e demagogo.

Estava sendo apenas profético. Além de humanista.

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