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quarta-feira, 16 de março de 2011
16 de março de 2011 | N° 16641
MARTHA MEDEIROS
Saques e saquê
Tem uma música do Capital Inicial cujo refrão pergunta “O que você faz quando ninguém te vê fazendo?” A partir daí, a letra fala de meninas que posam nuas na frente do espelho e de garotos que dão uns amassos nas namoradas sem que os pais delas percebam. Mas é uma pergunta interessante não só para os adolescentes, e sim para todos nós. O que faríamos se ninguém pudesse nos ver? Para além das fantasias sexuais, a resposta pode revelar também nosso caráter.
Jornalistas que estão no Japão têm revelado seu pasmo diante da tragédia provocada pelo terremoto e pelo tsunami, só que a perplexidade deles não se resume às consequências gravíssimas que todo mundo viu pela tevê: eles estão pasmos também com o comportamento do povo japonês, que não está saqueando lojas destruídas e tampouco casas abandonadas às pressas pelos seus conterrâneos. Não é surpreendente?
Ninguém deveria ficar surpreso com atitudes corretas, mas ficamos, porque a gente se acostumou a ver cenas de pessoas que aproveitam circunstâncias de vulnerabilidade para invadir supermercados, levando tudo o que podem, sem pensar um segundo que aquela mercadoria tem dono, ele apenas não está de vigília. É o que você faria também se ninguém pudesse te ver?
Quando um caminhão tomba na beira de uma estrada, surgem criaturas de tudo quanto é lado para recolher a carga espalhada pelo asfalto, e acabamos considerando isso uma espécie de redistribuição de renda. Afinal, são pessoas necessitadas que estão se virando como podem etc etc. Com gente olhando ou sem gente olhando, a surrupiada acontece liderada por papai e mamãe e imitada pelos filhinhos.
Nos dias posteriores à enchente em São Lourenço do Sul, percebi que a cobertura jornalística destacava também a proteção que o Batalhão de Operações Especiais estava oferecendo aos moradores que tiveram que deixar suas residências. Brigadianos fizeram plantão noite e dia para evitar saques.
Ou seja, se não houvesse um policial em frente a uma casa que teve as janelas e portas desobstruídas pelas águas, um sujeito qualquer poderia entrar e levar o que encontrasse. Não é que a Brigada estivesse evitando crimes cometidos por assaltantes profissionais: estava evitando também o impulso de pessoas de bem que não resistem em tirar alguma vantagem quando ninguém está de olho.
Quem é que determina o limite do que se pode e o que não se pode fazer quando não há vigilância? Esse limite é determinado pela cultura e pela educação de um povo. Respeito à propriedade alheia é algo que devemos ter em todas as circunstâncias – todas.
Se a propriedade deixou de ficar definida, ainda assim a pilhagem segue sendo uma atitude pouco nobre. Mas há culturas e culturas. Na terra do saquê, não há saques. Em outras, onde o exemplo de gatunagem vem de cima, a ocasião faz o ladrão.
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