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segunda-feira, 14 de março de 2011
14 de março de 2011 | N° 16639
PAULO SANT’ANA
O jeito de falar
Sempre que revejo depois de tempos uma mulher gorduchinha, tenho a delicadeza de dizer-lhe: “Olá, como estás mais magra!”.
Eu juro que seria indelicado se lhe dissesse: “Tu estás menos gorda”.
Seria a mesma grosseria que se diz a uma mulher: “Ué, tu estás menos feia”, em vez de dizer “estás mais bonita”.
Eu acho errado dizer a uma pessoa “tu estás mais inteligente” tanto quanto dizer “tu estás menos burro”.
“Mais inteligente” pressupõe que já foi burro e “menos burro” quereria dizer audaciosamente que o atingido é dono de uma burrice histórica.
Conheço um colega de televisão local que ia passando pela Rua da Praia quando avistou um seu ex-professor da Universidade e disse ao mestre: “Oh, o senhor passeando na Rua dos Andradas? Como vai? O senhor sempre brilhante quanto o era na Faculdade?”.
E o professor ao ex-aluno: “E você, sempre burro e medíocre quanto o era naquele tempo?”
Evidentemente que se tratou de uma mesquinharia do professor, mas a história aconteceu e, quando contada com o nome do apresentador de televisão e do professor de Direito, ganha um sabor espetacular. Mas eu não pude dar os nomes, iria me incomodar muito.
Este tratamento que se deve dar às pessoas é muito importante.
É de todo reprovável dizer assim a qualquer pessoa: “Tu, que és rico, milionário, não sentes o problema do custo de vida”.
Custei a aprender que não se deve chamar ninguém de rico. Mesmo que o cara seja rico, ele se ofende.
Eu acho que é porque se você chama alguém de rico está discriminando-o, de alguma forma você não está se sentindo igual a ele.
E do mesmo jeito não se deve chamar ninguém de pobre. E então eu acho que ninguém quer ser chamado de pobre para que não lhe lembrem desta tremenda desvantagem.
Hoje a palavra negro está muito difundida. Mas muitos negros não gostam de ouvi-la.
Por falar em raça, tem-se dúvida se judia é uma raça ou religião. Ou se é ambas as coisas.
Os judeus constituem uma raça destacada, é de ver-se por nós aqui, até poucos dias possuíamos um imortal da Academia Brasileira de Letras, Moacyr Scliar, que era judeu.
E fiquei sabendo esta semana que os judeus são apenas 3% da população dos EUA, mas 35% dos prêmios Nobel conquistados pelos norte-americanos pertencem a judeus.
Não é uma façanha dos judeus?
Os negros e os judeus estão acostumados a façanhas.
E eu me orgulho de ter tido e de ter entre meus melhores amigos negros e judeus.
Só que todos eles, antes de tudo, eram e são brasileiros.
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