Entrelacos

Entre a vingança e o perdão

Quem consegue sobreviver aos horrores de uma guerra mundial deve escolher o caminho da vingança ou do perdão?

A partir dessa pergunta gigante o escritor e jornalista Norman Lebrecht, nascido em Londres em 1948, construiu a narrativa do romance O jogo dos opostos, ora lançado no Brasil. Lebrecht é autor de onze livros sobre música, incluindo os famosos O mito do maestro e Quem matou a música clássica?, do romance premiado A canção dos nomes, é comentarista de cultura do Bloomberg, crítico musical do London Evening Standard e apresentador do programa The Lebrecht Interview da rádio BBC três.

O jogo dos opostos narra a saga de Paul Miller, que, no fim da Segunda Guerra Mundial, num país não identificado da Europa, consegue escapar do campo de concentração de trabalhos forçados, mas desmaia após percorrer alguns metros. A jovem Alice o acolhe e o esconde no sótão da pequena pousada de sua família.

Com o passar do tempo, ele recupera-se, apaixona-se por Alice, acaba casando com ela e decide ficar morando na cidadezinha. O casal tem um filho, e Paul, mesmo dividido entre as feridas do passado que o local lhe traz e o amor pela mulher e pelo menino, torna-se proprietário da pousada e prefeito da localidade. Paul pretende modernizar a idílica vila nas montanhas, numa tentativa de enterrar os horrores do passado, mas os pesadelos dos tempos da guerra voltam sempre e ainda mais na pessoa do comandante do campo de concentração e responsável pelas barbáries que lá ocorriam, que retornou à vila.

Paul passa a frequentar um psicólogo, mas as angústias que não divide nem com a esposa não passam. Ele vai enfrentar um conflito enorme: vingar-se do antigo algoz ou perdoá-lo e seguir em frente com a nova vida? É um dilema moral imenso e Paul tem de enfrentá-lo justamente em meio aos cidadãos da aldeia, agora seus amigos, que ignoravam as atrocidades cometidas no campo de concentração vizinho a ela.

A narrativa é envolvente e profundamente humana. Coloca bem as consequências da Segunda Guerra, o fascismo, o holocausto e, acima de tudo, narra uma história de sobrevivência simples e, mais ainda, traz profundas reflexões sobre o bem, o mal, a culpa, o amor , a raiva e o conjunto de emoções que incomoda a vida dos sobreviventes. Leya, 368 páginas, R$ 39,90, tradução de Elisa Nazarian, www.leya.com.