sexta-feira, 11 de março de 2011



11 de março de 2011 | N° 16636
PAULO SANT’ANA | DIONE KUHN (interina)


O despertar para as letras

Ao longo da vida, aprendemos que há o momento certo para decidir, agir, consentir, transgredir. São esses pequenos e grandes momentos que vão moldando nossos destinos. Saber a hora certa de comprar uma briga, fazer uma extravagância, aceitar um desafio profissional, ter o primeiro filho (o segundo, o terceiro...).

Aprendemos que o cavalo encilhado passa uma única vez, uma atitude precipitada pode pôr tudo a perder, uma palavra bem (ou mal) empregada pode fazer (ou desfazer) reputações, um simples gesto pode mudar a vida de alguém.

Descobrir esse momento em uma criança exige sensibilidade, paciência e atenção triplicadas. Afinal, somos nós, os pais, os principais responsáveis por pavimentar o caminho de nossos filhos até uma certa fase da vida.

Meu primeiro filho, Pedro, sempre encontrou em casa o incentivo para pegar um livro ou uma revistinha, nem que só para folhear. Desde sempre ele nos vê lendo. Desde os primeiros meses de sua vida, está reservado na estante um lugar só para obras infantis, todas ao alcance dele.

Pedro poucas vezes se recusou a ler, porém, geralmente deixava registrada sua inconformidade por ter de abandonar o jogo de Wii, as brincadeiras com a irmã ou o kit de experiências, mesmo que por apenas 10 minutos. E convenhamos: ele tinha toda razão. Mas é claro que a dúvida nessas horas sempre surgia: será que estamos orientando corretamente? Não estamos forçando demais?

Influenciada pela minha profissão – que não admite profissionais desconectados do mundo das letras –, a cada reportagem ou estudo sobre como criar o hábito de leitura entre as crianças lá estava eu tentando descobrir algum pecado mortal ou dica genial. Com pequenas variações, as receitas são as mesmas. Então por que nem sempre elas funcionam como a gente imagina?

No caso do Pedro, não fizemos nada de errado. Faltou apenas compreender que ainda não era o momento dele. A dois meses de completar nove anos, Pedro começa a esboçar um forte interesse pelos livros.

Talvez embalado pelo final pulsante do último volume da saga de Harry Potter, cuja leitura das 590 páginas há três meses ele compartilha com o pai todas as noites antes de dormir. O fato é que durante o Carnaval Pedro parece ter encontrado finalmente uma história que o fizesse despertar para a leitura.

Na obra Quem Leva a Melhor? – Novas fábulas de Esopo, Pedro deparou com uma leitura desafiadora. As novas versões de A Cigarra e a Formiga e O Leão e o Rato obrigaram-no a pensar quem realmente se saiu melhor ao final das duas histórias.

O livro mostra, por exemplo, a importância de ter um sonho sem abrir mão da responsabilidade e o limite entre a amizade e a lealdade. Até devolvê-lo à biblioteca do colégio, foram cinco releituras. E ainda assim com o compromisso de comprar um exemplar para ter em casa.

E, falando em momento certo, minha filha, Paula, de quatro anos, já está dando sinais com antecedência, talvez inspirada pelo irmão. No caso dela, são os pais os convocados a ler.

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